(Cada Minuto, 15/03/2016) Somos uma população em torno de um milhão e setecentas mil mulheres no estado de Alagoas.
Entre as pardas e pretas somos a maioria.
E é essa maioria que convive, rotineiramente, com direitos minoritários, com a discriminação, as desigualdades raciais e a violência que mata, Excelência.
Pretas do lado de fora do ar condicionado.
Tomando por base os resultados do Mapa da Violência 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, o feminicídio (assassinato por motivação de gênero) entre mulheres negras subiu para 54% na última década.
Entre mulheres brancas, caiu 9%, embora os números ainda sejam alarmantes. Mas se a queda de 9% dos assassinatos de mulheres brancas não significa muito, imaginem então o aumento de 54% dos crimes fatais contra mulheres negras.
O feminicídio mata muito, em Alagoas, principalmente as mulheres pretas e pobres.
Feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. Suas motivações mais usuais são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres, comuns em sociedades marcadas pela associação de papéis discriminatórios ao feminino, como é o caso brasileiro.
A taxa de mulheres negras vítimas de homicídios no País é mais que o dobro da de mulheres brancas. Para cada 100 mil habitantes, o número é de 7,2 e 3,2 respectivamente. Os dados estão no Diagnóstico dos Homicídios no Brasil: Subsídios para o Pacto Nacional pela Redução de Homicídios, divulgado nesta quinta-feira (15) pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça.
O apartheid da escravatura sendo forjado pelo descaso estatal.
É na faixa etária dos 15 aos 29 anos que está a maior parte das vítimas mulheres. Para as jovens negras, a taxa de mortes violentas é de 11,5 por 100 mil habitantes, enquanto para as jovens brancas é de 4,6. Os dados são do último levantamento do Datasus, de 2013.
Qual o Planejamento estratégico que tem o Governo do estado de Alagoas ( o segundo estado do Brasil, onde a violência contra a mulher é crescente?) para a inclusão da dimensão racial nas políticas públicas, adoção de ações afirmativas voltadas para o combate ao racismo, xenofobia, intolerância religiosa e suas lacunas mortais, Excelência?
Mulheres pretas e suas mortes determinadas, emparedadas vivas.
Qual é a estratégia estatal para decompor, com educação e ações eficazes e eficientes, a internalizada e naturalizada ideologia racista que violenta o corpo da mulher preta?
Políticas públicas de estado criam probabilidades e possibilidades de enfrentamento ao racismo.
Até quando teremos que morrer, Excelência?
Até quando?
Acesse no site de origem: O feminicídio mata muito, em Alagoas, principalmente as mulheres pretas e pobres, Excelência, por Arísia Barros (Cada Minuto, 15/03/2016)