(O Estado de S. Paulo, 25/05/2016) Além dos sintomas oculares já detectados antes, infecção pode causar problemas como hemorragia nas retinas, segundo pesquisa.
O vírus zika pode causar problemas oftalmológicos que não haviam sido identificados até agora em bebês com microcefalia, segundo um novo estudo publicado na revista Ophthalmology, da Academia Americana de Oftalmologia. Os distúrbios incluem retinas com hemorragias e com desenvolvimento anormal dos vasos sanguíneos.
A pesquisa foi liderada por Darius Moshfeghi, da Universidade de Stanford (Estados Unidos) e teve participação de cientistas brasileiros dos departamentos de oftalmologia da Santa Casa de São Paulo, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Santo Amaro.
“Até onde sei, os problemas oculares que encontramos ainda não haviam sido associados antes ao vírus zika. O próximo passo é diferenciar quais descobertas estão relacionadas ao próprio vírus e quais estão associadas à microcefalia causada pelo vírus”, disse Moshfeghi.
De acordo com os autores, um estudo anterior, feito com 29 bebês brasileiros que nasceram com zika, já havia mostrado que um terço das crianças têm problemas de visão, como lesões oculares, anomalias no nervo ótico e retinas com deficiência de nutrientes e oxigênio.
O novo estudo foi realizado com três bebês com microcefalia, nascidos no fim de 2015 no Nordeste brasileiro: dois em Pernambuco e um no Ceará. Todos os bebês avaliados são meninos, e suas mães têm suspeita de infecção por zika no primeiro trimestre da gravidez.
Os cientistas observaram, nos bebês, diversos tipos de problemas oculares ligados ao vírus que não haviam sido observados antes, como retinopatia hemorrágica (que causa sangramento na retina), vascularização anormal da retina (incluindo sinais da falta de vasos sanguíneos em áreas da retina onde houve morte celular) e maculopatia em torpedo (lesões em forma de torpedo na mácula, porção central da retina).
Além disso, os bebês avaliados no novo estudo também apresentaram outros sintomas oculares que já haviam sido notados em estudos anteriores. Os três bebês mostraram sinais de maculopatia pigmentar – lesões que aparecem como manchas de pigmentos na mácula – e sintomas de atrofia corio-retinianas, doença rara que produz um anel de pigmento escuro nos olhos.
Segundo os autores, o trabalho é um estudo de caso de pequenas dimensões, com dados observacionais limitados. No entanto, a descoberta se soma a uma crescente massa de informação clínica sobre como o zika pode afetar a visão e o desenvolvimento dos olhos das crianças.
Exames oftalmológicos. Os resultados, segundo os cientistas, não permitem concluir se a infecção viral em si é a causa das anomalias oculares, ou se elas são consequência da microcefalia induzida pelo vírus zika.
Por enquanto, os autores recomendam que todos os bebês com microcefalia em áreas atingidas pela zika sejam examinados por oftalmologistas. A recomendação também já havia sido feita pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) do governo dos Estados Unidos.
“Até segunda ordem, profissionais da saúde em regiões endêmicas de infecção por zika são aconselhados a submeter todos os recém-nascidos com microcefalia a exames de retina. O procedimento pode contribuir de forma considerável para a nossa compreensão da infeçção”, disse Moshfeghi.
Fábio de Castro – O Estado de S. Paulo
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