(UOL, 09/06/2016) O governo interino foi criticado pela (quase) completa ausência de mulheres
A imagem que chamou a atenção
Está vendo a foto acima? Ela é do primeiro dia de governo interino, quando Michel Temer deu posse a 23 ministros, no dia 22 de maio — todos homens.
A imagem foi espalhada como “prova” da falta de representatividade na Esplanada — não há mulheres nem negros na composição do primeiro escalão do seu governo interino. É a primeira equipe com esse perfil (apenas homens brancos) desde o mandato de Ernesto Geisel (1974-1979), ainda no período da ditadura civil-militar.
Protestos apareceram de todos os cantos — do grupo que defende a permanência da presidente afastada Dilma Rousseff aos movimentos feministas e de mulheres.
O governo justificou que “não foi possível” levar a representatividade em conta uma vez que governo tinha sido montado às pressas e com base em indicações feitas pelos partidos. Além disso, argumentou Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, à época: “em várias funções nós tentamos buscar mulheres, mas por razões que não vêm ao caso aqui nós discutirmos, não foi possível”. Muitas personalidades se negaram a participar do governo interino, por considerá-lo ilegítimo.
O UOL conversou com nove mulheres notáveis em suas áreas, que poderiam ter sido convidadas para estar na equipe executiva de Temer. Essas personalidades comentam quais são os principais desafios das pastas e como elas fariam para contorná-los.
Fazenda: Monica de Bolle
O que você faria se fosse ministra da Fazenda? A economista Monica de Bolle, pesquisadora do renomado Peterson Institute for International Economics (Instituto Peterson para Economia Internacional, em tradução livre), respondeu em tópicos como enfrentaria a atual crise brasileira.
“Tentaria, na medida do possível, evitar a introdução de impostos”
- 1) Foco no médio prazo e na flexibilização do orçamento, com teto para o crescimento do gasto nominal. Acrescentaria a isso a adoção de limites ao endividamento público para impedir que, futuramente, haja relações incestuosas entre Tesouro e Bancos Públicos. Limites para a dívida pública estão previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal. Reforçaria a LRF;
- 2) Tentaria, na medida do possível, evitar a introdução de impostos. Esclareceria que o Brasil terá de conviver com orçamentos deficitários até que a situação econômica e a arrecadação comecem a melhorar;
- 3) Usaria a necessidade de renegociar as dívidas dos Estados com a União como moeda de troca para a homogeneização do ICMS — ou seja, como forma de acabar com a guerra fiscal entre os Estados brasileiros. Isso é fundamental para melhorar a eficiência e a competitividade do que produzimos;
- 4) Trataria da reforma da previdência, conhecendo os limites do possível nesse debate;
- 5) Proporia reforma profunda do BNDES — temos de acabar com a segmentação no mercado de crédito provocada pelos empréstimos subsidiados. Como pesquisas minhas já mostraram, a diminuição de desembolsos subsidiados do BNDES aos níveis vistos em 2004 poderia diminuir as taxas de juros reais em até 1.3 ponto percentual. Tal redução no custo do capital melhoraria a evolução do investimento e da produtividade. A descompressão das taxas de juros nominais também provenientes da redução do crédito subsidiado do BNDES ajudaria a evolução das contas públicas. Como fazê-lo? Reorientando os empréstimos do banco, e atrelando de forma gradual a TJLP às taxas de mercado.
Educação – Professora Dorinha
Deputada federal pelo DEM de Tocantins, a professora Dorinha Seabra Rezende foi uma parlamentar atuante na elaboração do PNE (Plano Nacional de Educação). Antes dos mandatos legislativos, foi secretária estadual de Educação de seu Estado.
Para ela, é impensável que a educação perca recursos. Veja abaixo seus comentários sobre a pasta da Educação:
“É preciso entender que o PNE (Plano Nacional da Educação) é um programa de Estado, não de governo — não é um programa do PT e foi pactuado com toda a sociedade. Acho que ele dá um norte para qualquer governo que entre. O PNE já está atrasado e o grande problema é orçamentário.
“Quando olha o valor individual gasto por aluno, a gente gasta muito pouco.”
O CAQ (Custo Aluno Qualidade) é estratégico, ele vai dizer qual é o padrão do que podemos chamar de escola. Não se trata de luxo, é o mínimo.
Outra questão relevante é a carreira do professor: é preciso fazer a construção de uma boa formação e de uma boa carreira. O professor precisa ser avaliado, monitorado, mas temos que dar condições [de trabalho].”
Saúde – Carmen Zanotto