(O Estado de S. Paulo) Em artigo, a jornalista Lúcia Guimarães discorre sobre o modo de a mulher conduzir a política externa e afirma que “Dilma e Hillary têm em comum a desmontagem do estereótipo misógino da mulher emocional e pouco analítica”. Abaixo, trechos da entrevista:
“Hillary venceu a resistência da Liga Árabe, de um general e de um Secretário da Defesa para convencer Barack Obama a tomar a decisão de impedir um genocídio líbio. Na ONU, a embaixadora Susan Rice torceu o braço de diplomatas fujões para conseguir uma votação no Conselho de Segurança, pela zona de exclusão aérea na Líbia. Maria Nazareth Farani de Azevedo (embaixadora do Brasil, na ONU) serviu almoço em homenagem à Prêmio Nobel da Paz de 2003 Shirin Ebadi, um aperitivo para o prato principal, encomendado por Dilma: o voto brasileiro na Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, contra o apedrejador de mulheres Mahmoud.”
“O elenco da nova produção americana em política externa brilha sem auxílio de plumas ou paetês. Usa terninhos de cores pasteis e inclui ainda, no Conselho de Segurança Nacional, Samantha Power e Gayle Smith.”
“Quem disse que mulher leva tudo para o lado pessoal? Quem disse também que agressão militar era coisa de homem? Na década de 90, Colin Powell foi encostado na parede por Madeleine Albright – ele queria lavar as mãos do massacre dos Bálcãs. Dilma parece ter dado um basta na realpolitik personalista que nos colocava em má companhia.”
“Hillary Clinton, já acusada de prudência calculista, está longe de operar uma ação guerrilheira para neutralizar a frente da testosterona em Washington. E a nossa presidente ex-guerrilheira não vai começar a queimar sutiãs para mostrar ao mundo o girl power brasileiro. O que Dilma e Hillary têm em comum é a desmontagem do estereótipo misógino da mulher emocional e pouco analítica. O que há de emocional em combater atrocidades no Irã ou na Líbia? O que há de feminino em promover os direitos das mulheres e as oportunidades de educação para as meninas?”