Jovem ativista indiana abre o desfile da grife Archana Kochhar, dando visibilidade à sua causa
(El País, 10/09/2016 – acesse no site de origem)
Na Semana da Moda de Nova York, além de modelos, estilistas e celebridades há espaço também para a diversidade. Essa é a causa que defende a empresa FTL Moda, que, temporada após temporada, aposta em mulheres distantes do cânone 90-60-90, e neste ano convidou Reshma Qureshi, vítima de um ataque com ácido, para participar da festa nova-iorquina da moda. Essa jovem de 19 anos abriu nesta quinta-feira a o desfile da grife indiana Archana Kochhar, mostrando um vestido branco com estampa étnica.
Esse desfile foi muito além da moda. Para Reshma, tornou-se uma plataforma para dar visibilidade a um drama que atinge milhares de mulheres na Índia. “Eu me sinto realmente bem, e a experiência foi ótima. Acredito que definitivamente mudou a minha vida”, afirmou a indiana à imprensa após desfilar. “Por que não aproveitar a vida? O que aconteceu conosco não é nossa culpa, não fizemos nada de mau, então devemos seguir adiante”, disse ela à agência AFP na noite anterior ao desfile.
Em 2014, um ex-cunhado de Qureshi, apoiado por amigos e familiares, decidiu atirar ácido sulfúrico no rosto dela, interrompendo assim seu sonho de ir à universidade e encontrar um bom trabalho. Por causa do ataque, ela perdeu o olho esquerdo, o direito ficou parcialmente fechado, e ela sofre infecções constantes, além de visíveis cicatrizes. No ano passado, a jovem ficou famosa graças a tutoriais de beleza não convencionais que divulgou no Youtube. “Na Índia é mais fácil e barato conseguir ácido do que um batom”, dizia Reshma num desses vídeos, que fizeram dela uma das personalidades mais visíveis do país no combate à violência de gênero.
A ativista participa da organização Make Love Not Scars (“faça amor, não cicatrizes”), que apoia vítimas desse tipo de ataque, de estupros e de outras formas de violência de gênero, arcando com seus tratamentos e oferecendo assistência psicológica e trabalhista. A AFP estima que haja entre 500 e 1.000 ataques com ácido por ano na Índia. As sobreviventes ficam marcadas para sempre por suas cicatrizes, sofrendo também o ostracismo social.
Ao mesmo tempo em que Reshma desfilava nos EUA, um tribunal indiano condenava à morte um homem de 26 anos pelo assassinato de uma mulher de 24. Ela havia rejeitado seu pedido de casamento, e ele reagiu atirando ácido no rosto dela, o que causou sua morte. A sentença foi considerada histórica, por ser a primeira desse tipo no país.
Com um coque, o olhar firme e a mesma elegância que transmite em seus tutoriais, Reshma fez sua aparição na passarela nova-iorquina como qualquer outra modelo profissional. Nos bastidores, recebeu o abraço de uma colega. “Quero dizer ao mundo que não nos olhe como uma luz fraca. Podemos inclusive sair e fazer coisas”, disse. Reshma deu uma lição de beleza na Semana da Moda de Nova York.