A partir de agora não há mais determinação do que é ‘masculino’ e ‘feminino’
(O Globo, 19/09/2016 – acesse no site de origem)
O Colégio Pedro II extinguiu a distinção do uniforme escolar por gênero, conforme antecipou a coluna de Ancelmo Gois na edição desta segunda-feira do GLOBO. Antes, a escola estabelecia as peças do vestuário destinadas aos meninos (uniforme masculino) e aquelas para uso das meninas (uniforme feminino). Agora, a escola traz apenas a nomenclatura “uniforme”, ficando a cargo dos alunos a opção por qualquer um deles. A resolução que altera a norma passou a valer no dia 14 de setembro.
– A novidade é que não se determina o que é uniforme masculino e o que é uniforme feminino, apenas são descritas as opções de uniforme do Colégio Pedro II. Propositalmente, deixa-se à critério da identidade de gênero de cada um a escolha do uniforme que lhe couber- afirmou o reitor da instituição, Oscar Halac.
De acordo com o reitor, medida é importante para resguardar os alunos sofrem com a imposição de gênero colocada pela sociedade.
– Procuramos de alguma maneira contribuir para que não haja sofrimento desnecessário entre aqueles que se colocam com uma identidade de gênero diferente daquela que a sociedade determina. Creio que a escola não deve estar desvinculada de seu tempo e momento histórico. A tradição não importa em anacronia, mas pode e deve significar nossa capacidade de evoluir e de inovar- defendeu Halac.
A instituição afirma que a decisão é resultado de um conjunto de mobilizações e discussões promovidas por alunos e professores em vários campi. Segundo o Pedro II, a resolução também estabelece a permissão do uso do uniforme de Educação Física em qualquer aula durante o verão.
PROTESTO PARA APOIAR COLEGA
Em agosto de 2014, um grupo de estudantes do campus São Cristóvão do Colégio Pedro II promoveu um protesto para apoiar um colega transexual. Na época, a estudante que usava o nome de batismo e uniforme masculino decidiu trocar as calças por uma saia durante o intervalo de aula e foi repreendida pela direção da escola. Como resposta, os colegas decidiram vestir saias em apoio à amiga trans.
Na ocasião, o colégio chegou a dizer que o Código de Ética Discente não permitia que alunos do sexo masculino utilizassem o uniforme feminino.
No mesmo Campus, em setembro do ano passado, o “x” foi colocado no lugar das letras “a” e “o” em avisos institucionais e em provas. A medida foi adotada para respeitar a liberdade de gênero, mas a escolha acabou gerando polêmica. Alguns chegaram a argumentar que o uso da letra no lugar dos artigos masculino e feminino desrespeitava a língua portuguesa.
– Usar o “x” para suprimir o gênero de uma palavra foi a maneira que grupos que tratam do tema encontraram para chamar ao foco a questão do gênero- disse Halac quando a polêmica aconteceu. – Tratar o assunto da diversidade, seja ela sexual, racial ou cultural, é fundamental em um colégio, principalmente porque a rejeição e o preconceito trazem muita dor às crianças e adolescentes.