Segundo a Bíblia, Deus criou Adão primeiro. E da costela dele, fez Eva. O curioso é que, religiosamente, o mercado também parece seguir essa lógica: o homem é o padrão para a criação de produtos, para só depois vir a versão feminina. E elas ainda pagam um “imposto rosa”, diferença de preço, supostamente por ter mais tecnologias e adereços em seus itens. As questões de gênero influenciam os espaços por onde circulamos, os brinquedos infantis, as formas, os aromas e, exemplo mais emblemático, as cores das mercadorias e locais.
(TAB UOL, 01/04/2017 – acesse a íntegra do especial no site de origem)
O rosa para as meninas e o azul para os meninos foi uma moda surgida após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e consolidada após a década de 1980. No livro “Pink and Blue: Telling the Boys From The Girls” (“Azul e Rosa: Diferenciando Meninos e Meninas”, em tradução livre), a pesquisadora Jo Paoletti conta que, entre 1920 e 1930, muitas lojas de departamentos voltadas para o público infantil nos EUA tinham o azul como tom predominante na seção das meninas (por ser pacífica, associada ao céu) e o rosa para os meninos (por ser um tom que vem do vermelho, vibrante). Esse exemplo mostra como funcionam as construções culturais: o tempo e o design fazem tudo parecer muito natural e lógico. Mas não é. Mesmo assim, essas soluções são replicadas mundo afora.
Enquanto o foco está nas cores e outros conceitos arbitrários, as diferenças fisiológicas e anatômicas entre homens e mulheres por vezes são ignoradas na criação de produtos. Cintos de segurança não usam bonecos femininos em seus testes, resultando em menos eficácia do dispositivo para as mulheres. Já o ar-condicionado é reclamação clássica no ambiente de trabalho, o que faz todo sentido. Estudo científico feito na Holanda concluiu que o design dos termostatos regula automaticamente as temperaturas usando como padrão uma fórmula dos anos 1960, baseada em taxas metabólicas de homens.
Adriana Terra