Antropóloga defende movimento contra assédio iniciado por atrizes nos EUA
(O Globo, 10/01/2018 – acesse no site de origem)
Um grupo de cem artistas e intelectuais franceses levantou polêmica ao publicar no jornal “Le Monde” um artigo defendendo a liberdade dos homens de “importunar” as mulheres com “paqueras insistentes” e “galanteios”.
A declaração foi dada como resposta à cerimônia do Globo de Ouro, que serviu de palco para manifestações contra o assédio sexual. Para a antropóloga Miriam Goldenberg, as francesas acham que as denúncias afetam a liberdade sexual, mas é preciso questionar: “liberdade sexual de quem?”
Leia o depoimento de Miriam ao GLOBO:
“As autoras do artigo acreditam que os homens devem ter liberdade para importunar, tocar o joelho, roubar um beijo, e que isso faz parte da liberdade sexual. Eu pergunto: liberdade sexual de quem?
Lutar pelo fim do silêncio feminino não tem nada a ver com ter ódio dos homens ou ser contra a liberdade sexual. O ‘MeToo’ e o ‘Time’s Up’ estão, corajosamente, rompendo com a conspiração do silêncio que cercava o abuso de poder e a violência sexual contra as mulheres e, assim, trazendo à luz escândalos que podem transformar radicalmente a realidade vivida por mulheres de todo o mundo.
Muitas mulheres que foram abusadas e assediadas se calaram por medo, por vergonha e até mesmo por se sentirem culpadas. Elas sofriam achando que estavam sozinhas. Agora, elas sabem que ‘mexeu com uma, mexeu com todas’. Apesar das reações violentas — uma das autoras do artigo comparou o feminismo ao stalinismo — o tempo do sofrimento silencioso acabou! Não vamos nunca mais calar!”