Estrela em ascensão e uma das atrizes da edição de abril de Marie Claire, Erika Januza fala sobre o racismo que sofreu durante a carreira
(Marie Claire, 09/04/2018 – acesse no site de origem)
Quando ainda sonhava em ser modelo, na adolescência, Erika Januza participava de concursos de beleza em Contagem, Minas Gerais, onde nasceu, e em outras cidades da região. Levou incontáveis “nãos” em testes, até passar, entre 2 mil candidatas, para aquele que mudaria sua vida para sempre: o de Suburbia (2012), personagem-título da minissérie de Luiz Fernando Carvalho. “Sou uma pessoa antes e depois desse trabalho. Minha profissão mudou meus pensamentos, me trouxe para um universo completamente diferente”, conta. Entre outras mudanças importantes, está a tomada de consciência em relação às questões raciais. “Naquela época, eu nem sequer percebia que sofria preconceito. Hoje reavalio as recusas e comentários negativos que recebia.” Às vésperas de fazer 33 anos, na quarta novela da carreira, encarna Raquel, de O Outro Lado do Paraíso, personagem vítima de racismo. “Ela representa e mexe com os sonhos de muita gente. Vai ficar marcada para sempre”, comemora.
Nascida numa família composta exclusivamente de negros, Erika não ouvia em casa alertas sobre as dificuldades que enfrentaria por causa de sua cor de pele. “Somos negros e ponto. Ninguém falava sobre racismo, não havia debate sobre isso”, lembra. “Tive um choque depois de Suburbia.” Enfrentar a si mesma talvez tenha sido um dos maiores desafios naquela época, como quando a direção da série pediu que a atriz cortasse os cabelos, então alisados desde o início da adolescência. “Sofri muito. Alisar era uma proteção. Como toda pessoa negra, desde pequena ouvi dizerem que meu cabelo era ruim, bombril, duro”, diz. “Foi um processo dolorido de aceitação e, por isso, não julgo quem alisa. Mas isso me tirou da ditadura da beleza para sempre. Mudei de dentro para fora, e não o contrário.” Hoje, a atriz exibe orgulhosa as madeixas no horário nobre enquanto torce para que cada vez mais mulheres e homens negros ocupem espaço na televisão. “A maioria da população brasileira é negra. A sociedade quer se ver na TV. Temos que caminhar para uma representatividade total.”
Embora não se defina como militante, Erika se vê diretamente ligada à causa racial. Mesmo que quisesse, seria impossível se dissociar dela, diz a atriz. “Onde quer que eu vá, ouço: ‘Você me representa’. Porque somos todos descendentes de africanos e isso nos une”, conta. Para ela, sua fama ajuda a incentivar e empoderar outras mulheres. “Sei que ocupo um lugar importante, então, quando posso, falo das minhas experiências como cidadã negra. E nos identificamos. O que passo é parecido com o que todas as mulheres negras deste país passam, seja uma atriz, seja uma doméstica.”