Os desafios de jovens transgêneros para sobreviverem aos pátios e salas de aula no Brasil
(UOL, 30/07/2018 – acesse a íntegra no site de origem)
Aos 10, Isadora era uma garota como qualquer outra. Ou quase. Ela estudava perto da sua casa, em Cotia, na Grande São Paulo, em uma escola particular que seguia a pedagogia Waldorf, abordagem multidisciplinar de origem alemã. Cheia de energia, a menina fazia aulas de esportes e adorava o curso de teatro. Mas, às vezes, se sentia deslocada. Não conseguia se misturar com os colegas. Os meninos também não lhe davam atenção e, um pouco sem perceber e sem entender muito bem o motivo, ficava isolada durante a maior parte das aulas.
Aos 11, Theo estava prestes a entrar na puberdade quando sua mãe notou um comportamento diferente. Na passagem entre a 5ª e a 6ª série do ensino fundamental, ele começou a ganhar peso, vivia encapuzado e vestia moletons enormes. Tentava se esconder no cantinho do sofá da sala, de onde assistia a programas de TV, falava pouco e mantinha distância da lição de casa. Ir para a escola se tornava uma tortura cada vez maior para ele, que nem parecia o mesmo de tempos atrás.
Mais do que uma simples dificuldade de entrosamento com as outras crianças, havia outra questão. Theo e Isadora são a mesma pessoa. O isolamento entre os colegas de classe e a falta de informação sobre temas como orientação sexual e identidade de gênero fizeram com que ele sofresse de depressão e síndrome do pânico. No meio dessa crise, o desempenho escolar e de outras atividades de Theo acabaram prejudicados.
“Naquela época, parei de fazer praticamente todas as coisas que mais gostava: teatro, natação e os outros esportes. Eu não me entendia, não me aceitava e não me amava do jeito que eu era. Não conseguia me ‘encontrar’, não sabia quem eu era nem por que era diferente. Não sabia o nome disso. Só sabia que eu não era como as meninas. Chegou um ponto em que me perdi por completo. Não tinha esperança, só medo e confusão”, afirma.
Mirella Nascimento e Rodrigo Bertolotto