Apesar do significativo aumento de sua participação na sociedade, as mulheres ainda não ocupam as instâncias de poder
(Revista Trip, 18/09/2018 – acesse no site de origem)
Será que alguém consegue responder esta pergunta? Até porque mulheres nunca ocuparam espaço nenhum. Sempre foram invisíveis. Jamais fizeram parte da história ou da vida pública.
Não lhes era permitido ter vontade própria. Não tinham sequer o direito de sonhar. Foram adestradas para o casamento, que era somente o que podiam almejar.
A esposa devia obediência ao marido. Sua única responsabilidade era cuidar da casa e criar os filhos. E precisava ser bela, recatada e do lar.
Fizeram a mulher acreditar que sua honra estava em manter as pernas fechadas. A virgindade tinha valor. Tudo isso para o homem ter certeza de ser ele o pai dos filhos. Aliás, a presunção da paternidade ainda está prevista no Código Civil. Pelo jeito, o que a lei pressupõe é a fidelidade da mulher.
O mundo público sempre foi masculino. O poder feminino era restrito ao âmbito doméstico. Ainda hoje a esposa é considerada a rainha do lar, um reinado sem coroa, sem manto, sem cetro. E quem seria o rei? O homem detinha a autoridade familiar e se arvorava o direito de punir, tanto os filhos como a mulher.
Isso mudou? Quando? E em que medida?
Veio a revolução industrial, a pílula anticoncepcional, o ingresso da mulher no mercado do trabalho e seu acesso à educação.
Apesar do significativo aumento de sua participação na sociedade, as mulheres ainda ganham menos e não ocupam, em número igualitário, as instâncias de poder.
Avanços vêm acontecendo em muitas frentes, menos no âmbito político. Mesmo com reserva de cotas e a garantia de acesso às verbas do fundo partidário em percentual de 30%, rarefeita é sua presença entre os eleitos. O que evidencia que são inseridas como candidatas apenas para garantir o acesso de mais homens na eleição.
Se somos mais da metade da população e mais da metade do eleitorado, nada justifica termos assegurado somente um terço das candidaturas aos parlamentos.
Claro que a motivação – ou a falta dela – diz como é a posição da mulher no mundo privado. Ela ainda está submetida à crença de que sua função primordial é ser mãe e a responsável pela administração da casa. Como se libertar destes encargos sem o sentimento de culpa, se são constantemente cobradas pelo marido, pela família e pela própria sociedade?
Certamente a omissão feminina decorre da ausência de uma cultura de gênero, que precisa ser ensinada nas escolas. É assustadora a crescente onda que tenta manter este quadro ainda tão machista e conservador, sob a equivocada expressão “ideologia de gênero”.
Por tudo isso é indispensável a participação feminina tanto nas eleições majoritárias como nas proporcionais. Como a sociedade é plural, é preciso que o poder político retrate esta realidade.
As mulheres precisam abandonar a postura de submissão. Precisam acreditar que a feminilidade diz muito mais com o sucesso e a independência.
Afinal, é chegada a hora de aprendermos a ter por vontade própria!
Maria Berenice Dias foi homenageada no Trip Transformadores de 2014. Como juíza, mudou a história do casamento no Brasil ao proferir, em 2011, junto com colegas do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a primeira sentença que reconhecia a união homoafetiva. Assista aqui sua história.