(O Estado de S. Paulo) A ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), contestou as críticas à sua gestão feitas por algumas organizações do movimento negro e integrantes do Partido dos Trabalhadores, publicadas na sexta-feira em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. Para a ministra, é incompreensível a acusação de que não dialoga com os movimentos sociais: “No Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial nós temos 22 representações de setores da sociedade civil, que têm sido convocadas para participar de debates e decisões em diferentes ocasiões”, afirmou Luiza Bairros. “Eu participo dessas reuniões na maior parte do tempo e não entendo como é possível, diante dessas circunstâncias, alegar falta de diálogo.”
A ministra acrescentou que as críticas partem de pessoas descontentes com as mudanças que fez no quadro de pessoal da Secretaria. “É obvio que a troca de pessoas em cargos de livre nomeação do ministro causa descontentamento. Isso ocorre em qualquer ministério, em qualquer troca de governo”, enfatizou.
Luiz Bairros declarou que sua principal preocupação tem sido trabalhar de forma articulada com todos os ministérios. “A Seppir faz parte do governo e tem que enxergar as oportunidades para ações afirmativas naquilo que os ministérios efetivamente fazem. Não se trabalha à merce de interesses particulares, nem a esmo.”
A respeito das críticas de que teria mostrado falta de habilidade política nas negociações com a Caixa Econômica Federal, no epísódio em que pediu que fosse retirada do ar uma publicidade em que o escritor Machado de Assis era apresentado erroneamente como um homem branco, Luiza Bairros declarou serem totalmente equivocadas. Segundo a ministra, o debate ocorreu “de maneira digna e coerente” e “sem qualquer estremecimento nas relações da Seppir com a Caixa.
Indagada pela reportagem sobre a perda de prestígio da Seppir, que seria marcada entre outras coisas pela contingenciamento de mais da metade das verbas de sua pasta, ela respondeu: “Não lembro exatamente qual foi o índice do contingenciamento, mas acho que ficou em torno de 30%. Isso não significa perda de prestígio da secretaria, porque pegou todos os setores do governo, em função de determinadas avaliações que indicavam a necessidade de redução do gasto público. A ideia da Presidência da República de fazer mais com menos esteve presente em todo o planejamento que fizemos.”
Também de maneira incisiva, a ministra rebateu a crítica de que sua administração daria mais atenção a organizações não-governamentais do que ao movimento social. “O movimento negro é que reúne menos ONGs entre todos os movimentos da sociedade. Se fosse privilegiar apenas ONGs eu reduziria muito o espaço de articulação e diálogo.”
Disputas políticas são saudáveis, na opinião da ministra, porque permitem à sociedade identificar diferentes propostas e programas. “Esse debate não pode ocorrer, porém, na base da desqualificação sistemática de quem ocupa cargos nos ministérios”, afirmou. “Uma coisa que as pessoas não percebem é que, numa sociedade racista, os ataques a uma pessoa negra acabam atingindo a todos nós, negros. É assim que o racismo opera. O trabalho de um negro para a construção de uma trajetória coerente, bem qualificada, num determinado campo de atuação, não pode ser desqualificado em função de interesses que não se mostram em sua plenitude. Quando se trata de discutir um projeto político é preciso que as alternativas sejam colocadas na mesa de maneira explícita.”
Na avaliação de um ex-titular da Seppir, é possível que as críticas à atual ministra Bairros se devam a interesses contrariados por sua gestão. O movimento negro está dividido em várias tendências e nem todas se afinam com a linha da ministra. Outra dificuldade seria o fato de Luiza ter proximidade com o PT da Bahia, mas relações fracas com os petistas de outros Estados.
Pela continuidade da Seppir
Ao mesmo tempo em que surgem críticas à ministra, aumentam as vozes dos que se opõem à extinção da Seppir, que seria incorporada à Secretaria de Direitos Humanos. “A Seppir é uma conquista histórica do movimento negro na luta contra o racismo”, observa Martvs Chagas, diretor de fomento da Fundação Cultura Palmares e membro do diretório nacional do PT.
“Era a abertura do Encontro Iberoamericano do Ano Internacional dos Afrodescendentes realizando-se em Salvador, Bahia. No grande auditório, mais de duas mil pessoas, negr@s principalmente, mas também branc@s e indígenas. (…) a Ministra Luiza Bairros foi aplaudida de pé durante longos minutos por todas e todos. Eram mais de duas mil pessoas ovacionando a dirigente da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial antes mesmo que ela pronunciasse seu discurso. Uma recepção calorosa que dizia muito: era o reconhecimento de seus esforços frente à Seppir. Era também, e fundamentalmente, um forte recado, expresso em alto e bom som, para que a presidenta Dilma e algumas vozes descontentes da base do governo ouvissem: o Movimento negro brasileiro e seus aliados nos países ibero-americanos não estão dispostos a abrir mão da Seppir e tampouco de sua dirigente. (…) Mas, curiosamente, não vimos nenhuma repercussão deste momento na grande mídia. (…) Daí a grande surpresa de ver, no dia seguinte, em jornal de ampla circulação nacional, notícia anunciando um suposto descontentamento do Movimento negro com a Seppir, e uma suposta reivindicação dirigida à presidenta de que substituísse a ministra Luiza Bairros. Esqueceram de combinar conosco que estávamos em Salvador, integrantes e dirigentes das mais variadas correntes e organizações nacionais do Movimento negro, que estávamos lá aplaudindo e comemorando, debatendo e reivindicando, mas ao lado da Seppir e de sua chefe.” – Menin@s, eu (não) vi! por Jurema Werneck (Portal Geledés – 21/11/2011)
13/11/2011 – Unegro divulga carta a Dilma em defesa da participação de negros no governo
Leia na íntegra:
Ministra rebate críticas e afirma dialogar com movimento negro (O Estado de S. Paulo – 19/11/2011)
Movimento negro defende secretaria sob novo comando (O Estado de S. Paulo – 18/11/2011)
PC do B dá mais apoio à ministra que o próprio PT (O Estado de S. Paulo – 18/11/2011)