A filósofa italiana baseada em Nova York esteve em São Paulo na última terça-feira (15/10) para lançar seu mais novo livro, “Mulheres e Caça às Bruxas” e falar no seminário “Democracia em Colapso?”, realizado pelo Sesc e pela editora Boitempo. Marie Claire é parceira do evento
(Revista Marie Claire, 16/10/2019 – acesse no site de origem)
Silvia Federici foi a estrela da palestra Mulheres e caça às bruxas, parte da programação do seminário Democracia em Colapso?, realizado na cidade de São Paulo entre os dias 15 e 19 de outubro. Ao lado da filósofa estavam a empresária e ativista Eliane Dias, que mediou a conversa, e a jornalista Bianca Santana, da revista Cult, que comentou a fala de Silvia.
Italiana baseada em Nova York, Silvia passou cinco décadas escrevendo e militando por um feminismo que rejeita toda e qualquer discriminação de gênero, raça e idade. “Cresci em um mundo pós-fascista, ainda muito autoritário e misógino”, lembra ela de sua juventude em Parma, no fim dos anos 1950. “O feminismo tem sido o caminho para a compreensão da História, das razões por trás da desvalorização das mulheres e de muitos dos problemas que encontrei no dia a dia. O movimento ainda me permitiu desenvolver novas capacidades. Posso trazer à tona a dor que sinto e transformá-la em algo que não me mata. Como dizem na Argentina, posso construir uma epistemologia a partir do meu sofrimento”, continua a autora, que aos 25 anos mudou-se para os Estados Unidos, onde traçou uma intensa trajetória na literatura e no ativismo.
Em sua palestra da última terça-feira, 15, no Sesc Pinheiros, Silvia se dedicou a falar de um dos assuntos de que mais entende: a caça às bruxas que não se restringe aos tempos da Inquisição, mas que é presente dos dias atuais. “É importante entender do que se trata a caça às bruxas, porque elas redefiniram a posição social das mulheres, redefiniram quem são as mulheres como sujeitos sociais. Atualmente, é especialmente importante porque novas caçadas estão ocorrendo em várias partes do mundo; por exemplo, na África, na Índia, em Papua Nova Guiné, Timor Leste. A caça à bruxas não é uma questão apenas do passado. Meu objetivo é ver como o estudo dela nos ajuda a entender o aumento da violência contra as mulheres que estamos testemunhando hoje, claramente conectada com a expansão das relações capitalistas em todo o mundo”, disse.
Ainda segundo a filósofa, é preciso mudar o olhar para enxergar que a caça às bruxas de agora assume novos contornos. Negar o direito ao aborto, por exemplo, é uma forma de opressão, controle e perseguição às mulheres, “violência”, disse. Por outro lado, Silvia explicou que a esterilização involuntária é também um ato de violência praticado compulsivamente em mulheres marginalizadas em diferentes países do mundo. O Brasil, no caso, está entre eles.
Ao fim da palestra de Silvia, Bianca Santana comentou as teorias da filósofa italiana e fez questão de dizer em voz alta nomes de brasileiras, especialmente mulheres ligadas ao ativismo, que foram ou estão sendo perseguidas, assim como aconteceu com as bruxas da Inquisição. Entre elas: a vereadora assassinada Marielle Franco e Preta Ferreira, cantora e militante pelo direito à moradia que esteve detida durante três meses e meio este ano.