Sistemas de inclusão financeira, capacitação, empreendedorismo e caminhos para diminuir obstáculos para acesso a financiamentos por parte de mulheres marcaram os debates do evento
(ONU Mulheres Brasil, 23/10/2019 – acesse no site de origem)
Novos conceitos, tendências do sistema financeiro inteligente com enfoque em gênero e muitos exemplos de boas e más práticas na área orientaram os painéis do seminário “Promoção de financiamento inovador por meio de investimentos inteligentes em gênero: experiências, oportunidades e desafios”, realizado pela ONU Mulheres, OIT (Organização Internacional do Trabalho) e União Europeia, em 10 de outubro, em São Paulo. A troca de experiências entre bancos multilaterais e instituições de financiamento de desenvolvimento voltada para as mulheres foram os destaques da primeira parte do evento.
Para a diretora regional da ONU Mulheres para as Américas e Caribe, Maria-Noel Vaeza, “é necessário que mulheres aprendam a utilizar o sistema financeiro. Somos esses 50%, mas com uma energia muito forte para remover os obstáculos que enfrentam as pequenas e médias empreendedoras”.
Entre os assuntos abordados estavam os desafios de como atrair mais investidores capazes de disseminar novos instrumentos e estratégias para se obter melhoria das condições de inclusão de mulheres como empreendedoras.
“Segundo dados deste ano do Investor LATAM, apenas 8% dos investimentos financeiros são destinados ao empreendedorismo feminino frente a 16% de projetos liderados por homens, apesar do grande potencial de retorno financeiro que mulheres apresentam”, destacou a especialista em Investimento de Impacto e Financiamento Inovador do Escritório Regional da ONU Mulheres para as Américas e Caribe, Gabriela Rosero. A formação de redes de networking e matchmaking (relacionamento e encontro de partes interessadas) – unindo quem deseja investir com quem precisa do investimento – foi uma das soluções apresentadas.
Formas de trazer mulheres à formalidade no mercado de trabalho e investimentos voltados para esse objetivo também foram amplamente debatidos, por meio de diagnósticos, dados e trocas de experiência. Para a coordenadora do Itaú Unibanco, Fernanda de Carvalho Boschi, trazer as mulheres para o mundo dos negócios é muito mais do que uma atitude de boa vontade. Se mostrarmos bons resultados econômicos, como é perfeitamente possível, os investidores chegarão até nós”.
Negócios desafiadores – Fundos de pensão dedicados às mulheres empreendedoras foi um dos temas tratados como prioridade entre as painelistas de incorporações com enfoque em gênero. “Trata-se de um negócio que se trabalha por muitos anos, até que se possa tornar sócia de algum fundo de pensão. O sucesso está relacionado ao conhecimento e à confiança entre investidores”, declarou a sócia especialista em gestão de carteiras e avaliação de oportunidades de investimento (Ignia Ventures), do México, Christine Kenna.
No setor de agronegócios – voltado para mulheres – também foram revelados gargalos e desafios. Para a associada sênior da Acumen Latam Capital Partners, Maria Pia Morante, “homens se sentem mais confortáveis trabalhando junto a outros homens e aí se encontra um grande obstáculo a ser vencido pelas mulheres empreendedoras”.
O caminho para a inclusão no setor de investimentos é a comunicação e a união, revelaram as painelistas. De acordo com as especialistas, o papel da ONU Mulheres em aproximar empreendedoras com interesses comuns é fundamental para o alcance de bons resultados.
Aprendizados de gênero – Para a especialista nacional do setor privado do Programa Ganha-Ganha, ONU Mulheres Brasil, Adriana Carvalho, “o intercâmbio de informações sobre estratégias que não foram bem-sucedidas e aprofundar os motivos do insucesso também é uma grande forma de aprendizagem”. Nesse sentido, Christine Kenna lembrou que, no início de seu envolvimento com temas de investimentos voltados para mulheres apenas procurava engajar outras mulheres e, por fim, entendeu que o sucesso dessa iniciativa dependia do envolvimento direto por parte dos homens empreendedores, já que, naquele momento, eles eram os tomadores de decisão. “Sensibilizá-los e engajá-los foi fundamental para atingir bons resultados. Além disso, todos temos que nos esforçar e nos responsabilizar para que cada investidor exerça seu papel”, concluiu.
Redes e serviços de apoio ao investimento inteligente com enfoque de gênero foi o tema do último painel do seminário. Depoimentos entusiasmados, como o de Marta Cruz, foram um dos pontos altos do evento. Para a sócia gerente da NXPT, da Argentina, o segredo para o sucesso de empreendedoras e investidoras está no comprometimento de todas as partes envolvidas, no espírito de iniciativa, na ousadia. “Para se abrir um pequeno ou grande empreendimento, há que se pensar grande e ter paixão para se chegar cada vez mais longe.” Cristina abordou a importância dos “investidores-anjos”, além de incubadoras e aceleradoras para estimular iniciativas bem sucedidas.