Estudo internacional prevê aumento nos casos de violência doméstica, gestações indesejadas, casamentos infantis e mutilações genitais na próxima década
(Celina/O Globo, 28/04/2020 – acesse no site de origem)
A pandemia de Covid-19 terá um “impacto catastrófico” para as mulheres afirmou nesta terça-feira (28) a Organização das Nações Unidas (ONU), depois de um estudo internacional mostrar que o isolamento social necessário para conter o avanço do novo coronavírus pode levar a um aumento de 20% nos casos de violência doméstica, além de mais casos de casamentos infantis e mutilações genitais de meninas. O estudo foi conduzido pelas universidades Johns Hopkins (EUA), Victoria (Austrália) e a organização internacional Avenir Health.
Com consequência da pandemia, dezenas de milhões de mulheres deixarão de ter acesso a métodos contraceptivos e milhões de meninas podem ser submetidas a casamentos forçados e à mutilação genital. Cada três meses de isolamento podem resultar em 15 milhões de casos a mais de abuso doméstico, de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês), a agência da ONU que trata de questões populacionais.
As projeções salientam o que a ONU já descreveu como uma “pandemia-sombra” da Covid-19. Muitos países já relatam aumentos nos casos de violência doméstica. Ao mesmo tempo, a quarentena torna mais difícil para os serviços de proteção às mulheres chegarem a elas, isoladas em suas casas.
– Esses novos dados mostram o impacto catastrófico que a Covid-19 poderá ter em breve sobre mulheres e meninas em todo o mundo – diz Natalia Kanem, chefe do UNFPA. – A pandemia está aprofundando as desigualdades, e milhões de mulheres e meninas agora correm o risco de não terem acesso ao planejamento familiar, a proteger seus corpos e sua saúde.
Os pesquisadores acreditam que 44 milhões de mulheres em 114 países de baixa ou média renda podem perder o acesso a contraceptivos, o que deverá levar a 1 milhão de gravidezes não planejadas, caso o isolamento dure três meses e cause interrupção nos serviços.
O número de gravidezes indesejadas pode chegar a 7 milhões se o isolamento se prolongar por seis meses, de acordo com o estudo.
– Esses cenários são muito realistas – diz Ramiz Alakbarov, vice-diretor executivo do UNFPA. – O que estamos dizendo é: por favor, não tirem a saúde reprodutiva e os serviços de planejamento familiar de seus prioridaddes. Essa crise tem uma crise das mulheres dentro de si.
O UNFPA acredita que os serviços de saúde podem ficar tão sobrecarregados com a Covid-19 que não conseguirão prover os serviços de planejamento familiar. As mulheres também podem evitar idas às clínicas com medo de contágio ou pelas restrições de movimento. A pandemia também afeta as cadeias de produção. Muitos contraceptivos podem desaparecer das prateleiras nos próximos seis meses em mais de uma dezena de países pobres.
Os pesquisadores também acreditam que pode haver um número extra de 13 milhões de casamentos infantis e outros dois milhões de casos de mutilação genital na próxima década já que a pandemia pode impedir os esforços globais para acabar com essas duas práticas. O aprofundamento da pobreza causado por uma recessão global pode fazer com que mais famílias casem suas filhas mais cedo.
Por Reuters