Em sua nova coluna, a promotora de Justiça Silvia Chakian fala sobre como a mulher sempre teve em suas costas o peso do cuidado, estereótipo reforçado com a pandemia do novo coronavírus. “Se por um lado temos histórias inegavelmente inspiradoras, preocupa-me, por outro, quando há certa romantização de tantas dores. E, mais ainda, quando essa luta acaba sendo posta como algo novo. Simplesmente porque não é.”
(MarieClaire | 09/09/2020 | Por Silvia Chakian)
Progressivamente, vi crescer a quantidade de matérias, capas de revista e posts sobre a presença das mulheres na linha de frente do combate à pandemia do novo coronavírus. Se por um lado temos histórias inegavelmente inspiradoras, preocupa-me, por outro, quando há certa romantização de tantas dores, lágrimas e sacrifício pessoal por trás do trabalho dessas profissionais, que muitas vezes sequer têm acesso aos equipamentos básicos de proteção individual recomendados. E, mais ainda, quando essa luta acaba sendo posta como algo novo. Simplesmente porque não é.
Segundo relatório da ONU Mulheres, 70% dos trabalhadores de saúde no mundo são mulheres. No Brasil, as mulheres representam 85% da força de trabalho de enfermagem; 45,6% dentre os médicos e 85% de cuidadores de idosos. Há ainda outras estatísticas, como serem 90% dentre profissionais de limpeza de hospitais, função tão essencial e quase nunca lembrada nas pesquisas.