O esforço e a dor de mulheres que escaparam de morrer pelas mãos de homens com quem se relacionavam
(O Globo | 11/07/2021 | Por Luã Marinatto e Ludmilla de Lima)
RIO — “Se você não for minha, não será de mais ninguém”. A frase foi ouvida pela funcionária de um supermercado em Nova Iguaçu, no intervalo do expediente, e consta no depoimento que ela prestou à polícia sobre o ataque do ex-companheiro, no dia 14 de junho. Pouco depois, o homem avançou contra ela com uma faca. O atual namorado, um colega de trabalho, tentou defendê-la e também ficou ferido. Horas mais tarde, o agressor foi preso.
— Não quero revisitar o que aconteceu, e tenho receio de me expor — afirma, quase um mês depois, a vítima, que por esse motivo não será identificada.
Só entre janeiro e maio deste ano, 140 mulheres foram alvo de tentativas ou de feminicídios consumados no Estado do Rio — o equivalente a praticamente uma ocorrência diária. Considerando somente os 42 casos em que houve morte, na comparação com o mesmo período de 2020, quando foram registrados 26 óbitos, o aumento é de 61,5%.
Mais de dois anos se passaram, mas as agressões sofridas por Elaine Peres Caparróz ainda doem no corpo e na alma. Marcas de mordidas na pele, sequelas na face e um incômodo permanente na altura do pulmão a fazem lembrar diariamente das quatro horas em que viveu todo tipo de violência em seu antigo apartamento, na Barra, por parte do estudante de direito e praticante de jiu-jítsu Vinícius Batista Serra, que responde por homicídio qualificado. Era o primeiro encontro dos dois, que se comunicavam pelo Instagram há quase oito meses. Vítima de tentativa de feminicídio em fevereiro de 2019, Elaine nunca mais foi a mesma. A sensação de insegurança é um fantasma permanente. Nesta segunda-feira, acontece uma nova audiência do caso.