(Estadão | 13/07/2021 | Por Adriana Del Re)
A frase que está no título deste texto ecoou na minha mente desde que as imagens chocantes do DJ Ivis agredindo a ex-esposa, Pamella Holanda, foram divulgadas no domingo e que essas palavras começaram a tomar conta das redes sociais como um mantra poderoso: ‘Em briga de marido e mulher, a gente salva a mulher’. Mas mais do que isso: como uma forma de reparar um antigo ditado que mulheres da minha geração (e da geração da minha mãe, da minha avó…) cresceram ouvindo: ‘Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher’.
Não dá para ignorar o lado nocivo das redes sociais, com disseminação de ódio, fake news, etc., mas precisamos falar de sua importância no debate de assuntos relevantes, como os relacionados a violência doméstica, relacionamentos abusos e masculinidade tóxica. Graças a mulheres que começaram a trazer o tema a público e a compartilhar suas histórias pessoais de sofrimento, humilhação e violência por causa de parceiros algozes, muitas outras começaram a se identificar também num relacionamento abusivo-violento, a perceber o real perigo de estar nele, e a pedir ajuda, a denunciar. Ou se deram conta de já terem passado por um relacionamento abusivo. Esse é o meu caso.
Já estive em um relacionamento abusivo sem saber que estava, já que o assunto, na época, não era amplamente discutido como agora, em que conseguimos detectar o comportamento de um típico parceiro abusivo, que agride psicologicamente a companheira até evoluir para a violência física (e, em muitos casos, para o feminicídio). Esse tipo de relacionamento começa com atitudes aparentemente banais, de quem ‘ama e cuida’: ciúmes exagerados, cerceamento da convivência da parceira com seus amigos, sufocamento de sua autonomia. Sair sozinha? Nem pensar.