Filho do presidente disse que se a vítima tivesse uma arma resolveria o problema
(O Globo, 19/02/2019 – acesse no site de origem)
Especialistas em segurança pública criticaram a manifestação do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, sobre o caso da empresária Elaine Caparróz, de 55 anos, espancada por quatro horas por um agressor que conheceu pela internet. Carlos disse nas redes sociais que se a vítima tivesse uma arma em casa poderia ter evitado a agressão .
Se esta senhora tivesse como se defender, e fosse de sua vontade, uma arma de fogo legal resolveria justamente este absurdo. Imagine as sequelas eternas deixadas por esse covarde? A defesa pessoal dentro de sua casa têm que ser prioridade urgente do Congresso Nacional. pic.twitter.com/DaIWrlvqlg
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 19 de fevereiro de 2019
— É uma afirmação simplória. Se ela tivesse uma arma, ela poderia morrer na mão do cara — avalia o coronel José Vicente, ex-secretário nacional de Segurança Pública. — Se essa arma estivesse visível por ali e, esse indivíduo, com a disposição insana que estava, poderia ter matado a mulher. Era o mais provável — acrescenta.
Vicente lembra que, pelo relato de Elaine, as agressões tiveram início enquanto ela dormia.
— Ela teria que dormir com arma debaixo do travesseiro para tentar pegá-la quando começou a ser agredida.
O coronel ainda destaca que, em geral, as pessoas não possuem preparo emocional para utilizar a arma, mesmo quando fazem cursos de tiro.
— Eu sempre coloco: a pessoa (vítima) está preparada para matar alguém, alguém do seu relacionamento? Não é uma coisa tão simples assim.
Professor da Universidade Brasília e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Arthur Trindade, concorda com a avaliação do coronel.
— Se tivesse a arma, ele poderia tê-la matado. Ela estava dormindo, acordou com o espancamento. Como conseguiria pegar a arma?
Trindade afirma que os casos em que a vítima tem êxito ao reagir são “raríssimos”.
— Estatisticamente não acontece.
Em janeiro, o GLOBO mostrou que na comunidade cientifica existe quase um consenso que o aumento do número de armas em circulação provoca aumento dos crimes. Professor do Insper e da Unicamp, Thomas Conti é autor de “Dossiê Armas, Crimes e Violência: o que nos dizem 61 pesquisas recentes”.
No seu trabalho, Conti reuniu os estudos mais recentes e relevantes sobre a relação entre acesso a armas de fogo e a taxa de crimes. O resultado aponta uma clara direção nas pesquisas da área: 90% constatam que mais armas geram mais crimes.
Sérgio Roxo