29 de janeiro, 2020
À frente do atendimento a vítimas de violência sexual do Hospital das Clínicas, médica Ivete Boulos fala dos traumas dos pacientes e critica as iniciativas para acabar com o direito ao aborto pós-estupro
Por Luiza Villaméa
As pessoas costumam chegar falando baixo, quase sussurrando, ao conjunto de salas do 5º andar do Prédio dos Ambulatórios do Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde fica o Núcleo de Assistência à Vítima de Violência Sexual (Navis). “É aqui que tratam daquele problema?”, perguntam algumas. Outras chegam em choque. São crianças, adolescentes, mulheres e homens em busca de ajuda para superar sequelas dos ataques sexuais que sofreram. Crianças pequenas nem sempre têm vestígios físicos. “Nesses casos, há um abuso de manipulação importante, mas sem deixar marcas. É a invisibilidade da violência”, afirma a infectologista Ivete Boulos, coordenadora do Navis. Homens, por sua vez, tendem a procurar o serviço apenas quando apresentam um trauma físico importante. Mulheres, de todas as idades, representam 82% dos pacientes do Navis, o que reflete a mais recente pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pelo levantamento, das 66.041 vítimas de estupro em 2018 no país 55.726 eram mulheres.
Chegam casos de gravidez pós-estupro. Quando a mulher opta pelo aborto previsto no Código Penal, é encaminhada para um hospital que realize o procedimento, com retorno para o Navis, para acompanhamento psicológico. Perplexa com as movimentações que visam um retrocesso, por meio da proibição total do procedimento ou da imposição de condições cruéis e desumanas antes da interrupção legal, a infectologista denuncia: “É uma exploração do sofrimento da mulher, que chega grávida de um estupro e vai ser chamada de assassina”.
Por Luiza Villaméa
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