Taxa de pessoas negras, indígenas e com deficiência aprovadas é superior à cifra de inscritos; ministério vai analisar resultado feminino
A aprovação de pessoas negras, indígenas e com deficiência no CNU (Concurso Nacional Unificado) supera o previsto pela lei de cotas e mostra avanços na política de diversidade do setor público federal, segundo especialistas. Por outro lado, a entrada de mulheres aquém do esperado pode postergar metas de equidade de gênero, sobretudo em cargos de liderança.
Mulheres foram 56% dos inscritos no certame, mas só 37% entre os classificados. Ainda que as candidatas tenham tido uma taxa de desistência superior à dos homens, elas foram maioria entre quem fez a prova, de acordo com a ministra Esther Dweck, de Gestão e Inovação.
A ministra diz que a pasta vai se debruçar sobre os dados para entender os motivos da baixa aprovação feminina. “Estamos comparando com outros concursos e já vimos que, em algumas dessas carreiras [que estiveram no CNU], o percentual de mulheres aprovadas era inferior a esse, então talvez tenha sido um aumento, não uma redução.”
Para especialistas, mulheres ainda enfrentam dificuldade para conciliar os estudos com a jornada tripla, que mistura o cuidado com filhos e o trabalho dentro e fora de casa. Por isso, saem em desvantagem, sobretudo em concursos que exigem dedicação em tempo integral.
“Sabemos que as mulheres já são maioria nas universidades. Há um paradoxo no resultado do CNU neste aspecto, mas é preciso ressaltar que historicamente elas exercem uma jornada mais exaustiva que a dos homens e que isso pode comprometer o tempo de dedicação que os concursos exigem”, diz Elaine Reis, mestre em administração pública pela FGV.
O bloco 5, de carreiras de educação, saúde, desenvolvimento social e direitos humanos, é o único que teve mais mulheres classificadas do que homens. Nos demais, a classificação ficou abaixo de 42% –o menor foi no bloco 2, de tecnologia e dados, em que a aprovação feminina ficou em 8,4%.
“Mulheres ainda estão restritas às carreiras relacionadas ao cuidado, que sabemos que, em sua maioria, têm uma remuneração menor”, afirma Renata Vilhena, presidente do conselho do Instituto República.org, dedicado à melhorias no setor público.
A carreira com maior salário inicial do CNU foi de auditor-fiscal do trabalho, que receberá R$ 22.921,71. O cargo estava inserido no bloco 4, em que apenas 35,6% dos aprovados são mulheres.