(O Estado de S. Paulo) As disparidades entre negros e brancos no mercado de trabalho não se resumem ao setor privado. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que, na carreira pública, a presença de negros é baixa entre as áreas mais concorridas, em especial as de âmbito federal. Na diplomacia, por exemplo, os pardos e negros representaram apenas 5,9% dos que ingressaram entre 2007 e 2012, contra 94,1% de brancos e outras etnias (amarelos e indígenas). As informações foram retiradas do Siape, que agrupa toda a folha de pagamento dos servidores públicos.
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Os pesquisadores Tatiana Dias Silva e Josenilton Marques da Silva, do Ipea, levantaram os números para formar uma análise sobre o Projeto de Lei 6.738/2013, que propõe a reserva de vagas de 20% dos cargos da administração pública federal para negros, e que está em discussão no Congresso Nacional.
Numa análise mais geral, a presença de negros parece relativamente equilibrada. Eles respondem por 47,4% dos ocupados no setor público, contra 51,5% de brancos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2012. Nos empregos de esfera municipal, por exemplo, há mais negros (51,4%) que brancos (48%). Mas essa fatia se dilui nas instâncias estadual e federal – onde há mais concorrência e mais exigências, como ensino superior. Para se ter uma ideia, das mulheres negras ocupadas no setor público, 65% estão nos municípios, 27,5% nos Estados e apenas 7,5% no governo federal.
Como os cargos com remunerações maiores são predominantemente ocupados por brancos, os salários médios dos negros no emprego público são geralmente mais baixos, mesmo que os anos de estudos sejam equivalentes. Em média, os homens negros recebem 65,7% do que recebem os homens brancos, abaixo das mulheres brancas, cujo rendimento é equivalente a 68,6%. Na mesma comparação, as mulheres negras ganham menos que a metade.
Mais educação. Na avaliação da ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, os brancos ocupam mais vagas de chefia enquanto negros seriam funcionários em posições mais subalternas – o que explica a diferença de rendimento.
Luiza disse na terça-feira, 11, que a política de cotas para negros em concursos públicos, se aprovada, terá uma vigência de dez anos. “Existe ainda, com toda melhoria que já ocorreu, um grande espaço para o aprimoramento da educação no Brasil. É exatamente por isso que o projeto de lei prevê um período de dez anos de funcionamento. Esperamos que esse período seja suficiente para que governos estaduais e municipais se juntem ao governo federal no esforço de melhoria da qualidade da educação”, afirmou.
Luiza reconheceu a existência de uma parcela de brasileiros pobres e brancos que não têm acesso ao sistema de cotas. Mas, para ela, mesmo a população branca de baixa renda tem mais oportunidades ao longo da vida do que as pessoas negras.
Acesse o PDF: Negros são minoria nas carreiras públicas mais disputadas (O Estado de S. Paulo – 12/02/2014)