(Gazeta do Povo) Na infância, os estímulos distintos e as expectativas da sociedade em relação a meninos e meninas influenciarão os rumos profissionais de cada um e isso ajuda a explicar os preconceitos que ainda surgem quando a mulher busca a área científica, por exemplo. Essa é uma das conclusões da pesquisa de doutorado da professora Lindamir Casagrande. ?Considero fundamental que os cursos de licenciatura, pedagogia e magistério formem professores sobre a temática de gênero e diversidade para que eles estejam preparados para proporcionar a todos e todas condições de se desenvolver como cidadãos e cidadãs e possam fazer suas escolhas profissionais de acordo com que melhor lhes convier?, defende.Apesar de representarem 61% das pessoas que concluem o ensino superior, as mulheres não têm conquistado espaço equivalente em cursos de pós-graduação ? o que pode ser comprovado pelo número de bolsas de estudo concedidas no Brasil. Segundo a responsável pela Articulação Institucional da Secretaria Nacional de Políticas sobre mulheres (SPM), Vera Lúcia Lemos Soares, ainda há muitos obstáculos para que elas possam se dedicar à pesquisa.
“O número de bolsas é desproporcional, especialmente nos níveis mais altos de estudo e também quando a pesquisa é feita fora do país. Como a responsabilidade dos filhos recai principalmente sobre a mulher, a dedicação dela à pesquisa acaba sendo prejudicada”, observa. Segundo Vera, algumas ações recentes das instituições brasileiras poderão reverter esse quadro. No fim de 2011, entrou em vigor uma norma da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) que concede licença-maternidade de quatro meses para as bolsistas grávidas.
No final de 2012, foi a vez do CNPq conceder prorrogação de um ano para as bolsistas que engravidam. “?Até então, as grávidas não tinham direito algum e agora esse direito é reconhecido pelas instituições de financiamento”?, afirma Vera.
Para ressaltar as conquistas femininas na ciência e estimular a igualdade de gêneros, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas para as mulheres (SPM), lançou em 2013 a primeira edição da publicação Pioneiras da Ciência. Na terceira edição, divulgada no início de 2014, foram incluídas duas pesquisadoras paranaenses: Danuncia e a bioquímica Glaci Teresinha Zancan, que morreu em 2007. ?A ideia é dar visibilidade à grande contribuição que as mulheres vêm fazendo no campo científico?, diz Vera Lúcia Lemos Soares, secretária de Articulação Institucional da SPM.
A intenção de Danuncia, originalmente, era cursar Medicina, mas foi desaconselhada pela mãe. “Ela falou: ‘Não seja boba. Médica mulher não tem lugar. O povo não aceita’.” O preconceito continuou por muito tempo e adentrou na década de 1980. “Eu tinha já uns 48 anos quando fiz uma cirurgia com uma médica e uma conhecida minha, pessoa esclarecida, me perguntou se eu confiava em uma mulher para me operar”, conta.
Acabou se realizando na Zoologia, atuando como taxonomista – classificação dos seres vivos, trabalho fundamental para os estudos de biodiversidade. Começou com pássaros, mas em 1954 voltou os olhos para as abelhas – as Hymenoptera apoidea.
Ao dedicar sua vida à ciência – é uma das três maiores taxonomistas da atualidade, conforme o Catálogo das Abelhas na Região Neotropical -, Danuncia abdicou do casamento e dos filhos, destino usual para as mulheres de sua geração. Para ela, foi uma escolha que ocorreu naturalmente. “?Fui trabalhando. Alguns pretendentes, quando apareceram, me faziam pensar que se eu ficasse em casa, sem trabalhar, teria que me rebaixar para pedir dinheiro para fazer minhas coisas.”
Glaci
Também reconhecida como pioneira na ciência, Glaci Zancan lecionou para cerca de 10 mil alunos do curso de Farmácia e Bioquímica da UFPR e publicou 42 trabalhos originais sobre microrganismos, especialmente fungos. Entre 1999 e 2003, foi duas vezes presidente eleita da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC). Em 2009, a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia homenageou 32 profissionais paranaenses, de todos os campos de atuação, com o Troféu Glaci Zancan.
Incentivo
No fim de 2013 foi lançado o projeto federal Meninas e Jovens Fazendo Ciências Exatas, Engenharias e Computação, com o objetivo de incentivar a igualdade de gênero nessas áreas. Foram destinados R$ 11 milhões para a ação, que começa a ser implantada neste ano em colégios de ensino médio selecionados. Das 2 mil escolas credenciadas pelo edital, 93 ficam no Paraná.
Convivência: Postura de adultos influencia escolhas
Na infância, os estímulos distintos e as expectativas da sociedade em relação a meninos e meninas influenciarão os rumos profissionais de cada um e isso ajuda a explicar os preconceitos que ainda surgem quando a mulher busca a área científica, por exemplo. Essa é uma das conclusões da pesquisa de doutorado da professora Lindamir Casagrande. “Considero fundamental que os cursos de licenciatura, pedagogia e magistério formem professores sobre a temática de gênero e diversidade para que eles estejam preparados para proporcionar a todos e todas condições de se desenvolver como cidadãos e cidadãs e possam fazer suas escolhas profissionais de acordo com que melhor lhes convier”, defende.
Bolsa de estudo: Elas ainda são minoria em auxílio para pós-graduação
Apesar de representarem 61% das pessoas que concluem o ensino superior, as mulheres não têm conquistado espaço equivalente em cursos de pós-graduação – o que pode ser comprovado pelo número de bolsas de estudo concedidas no Brasil. Segundo a responsável pela Articulação Institucional da Secretaria Nacional de Políticas sobre Mulheres (SPM), Vera Lúcia Lemos Soares, ainda há muitos obstáculos para que elas possam se dedicar à pesquisa.
“O número de bolsas é desproporcional, especialmente nos níveis mais altos de estudo e também quando a pesquisa é feita fora do país. Como a responsabilidade dos filhos recai principalmente sobre a mulher, a dedicação dela à pesquisa acaba sendo prejudicada”, observa. Segundo Vera, algumas ações recentes das instituições brasileiras poderão reverter esse quadro. No fim de 2011, entrou em vigor uma norma da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) que concede licença-maternidade de quatro meses para as bolsistas grávidas.
No final de 2012, foi a vez do CNPq conceder prorrogação de um ano para as bolsistas que engravidam. “Até então, as grávidas não tinham direito algum e agora esse direito é reconhecido pelas instituições de financiamento”, afirma Vera.
Acesse o PDF: Conquistas de uma época em que mulher e ciência não andavam juntas (Gazeta do Povo, 23/02/2014)