(Agência AIDS, 19/07/2016) O racismo é uma das causas ignoradas em relação à epidemia de HIV. Também é uma das razões pelas quais ela ainda não foi erradicada. A afirmação é da atriz e ativista Charlize Theron, que participou nesta segunda-feira (18), da 21ª Conferencia de Internacional de Aids, em Durban, na África do Sul.
“As pessoas têm medo de falar sobre isso”, diz a atriz em entrevista ao jornal britânico “The Guardian”.
Theron nasceu na África do Sul e criou uma fundação no ano de 2007 para ajudar a impedir que adolescentes e jovens se infectem com o vírus HIV. Segundo ela, o aumento no financiamento em ações de combate a aids foi muito importante para o esforço de acabar com a epidemia. “Ao mesmo tempo, há questões fundamentais como o estigma. Uma parte disto é racial e eu acho, realmente, que isto nós não temos discutido ou as pessoas têm muito medo de falar”.
A atriz se diz esperançosa que um dia esses temas sejam debatidos abertamente. “O HIV não sabe a diferença entre a pele preta e branca. Quando olhamos como as pessoas são tão desproporcionalmente afetadas, temos que olhar para as questões raciais. Nós também temos que olhar para o fato de que as mulheres são consideradas menos importantes do que os homens no mundo. Estas são todas causas reais.”
Theron viveu seus primeiros anos e a adolescência na sombra de uma crescente epidemia de HIV na África do Sul. “Eu tenho memórias muito vívidas de ser muito jovem e ser afetada pelo que estava acontecendo. Ninguém na época sabia o que era [a aids]. Justamente isso é que era tão assustador e deixou uma forte impressão em mim. Isso ficou comigo para o resto da minha vida”, conta.
Segundo Theron, a epidemia atingiu Botsuana mais cedo do que a África do Sul. “As pessoas falavam, mas eu não entendia por que as pessoas estavam morrendo naquele ritmo tão alarmante. Você ouvia histórias e as pessoas falavam sobre os membros de suas famílias. Naquela época, as pessoas falavam que era tuberculose. Mas também havia uma enorme intenção oculta porque todo mundo queria torná-lo um vírus gay e, na minha opinião, observando as mortes na África do Sul, percebemos que isso era completamente ridículo. Determinar isto, desta maneira, sobre um grupo, era tão absolutamente errado. E eu acho que, desde o início os sul-africanos sentiram isto”.
À medida que foi crescendo, Theron foi tendo consciência de como a África tinha sido afetada desproporcionalmente pela epidemia. “Como sul-africana, tudo isso é muito difícil de ignorar. Depois de tomar conhecimento, você quer ser uma parte da solução de alguma forma. Eu estou falando sobre meus primeiros anos da adolescência, então é desde antes de eu começar a viajar. Mas meus pais sempre estavam atentos às notícias e aos jornais, por isso a conversa acontecia com frequência em nossa casa”.
Theron cresceu na fazenda de seus pais, em Benoni, uma província na África do Sul. Seu pai era alcoólatra. Em 1991, ele atacou sua mãe, que, em legitima defesa, o matou com um tiro. A mãe de Theron não foi responsabilizada. Mas ela se mudou para a Europa com seus filhos e, em seguida, para os Estados Unidos, onde Theron aprendeu Inglês com sotaque norte americano e se tornou uma atriz de Hollywood. Lá, ela ganhou um Oscar, por seu papel como uma assassina em série no filme Monster, em 2003.
Iniciativas
Foto: Leigh Page
Sua fundação, o Charlize Theron Africa Outreach Project, busca ajudar os adolescentes e jovens a se protegerem do HIV. Theron chama o projeto de “investimento na juventude africana, para que eles possam, finalmente, tomar boas decisões e ficarem livres do HIV”.
Além disso, no município de Edendale, na província de Pietermaritzburg, a fundação patrocina o WhizzKids United, um projeto iniciado pelo enfermeiro britânico Marcus McGilvray — que trabalha com a população soropositiva.
O WhizzKids United, destina-se a ajudar crianças e adolescentes diagnosticados com HIV a construir a sua confiança, autoestima e conhecimento do vírus de maneira lúdica.
Para Theron ter hoje 17 milhões de pessoas em tratamento – sendo que 20 milhões estão sem tratar — significa que ações para impedir os jovens de serem infectados foram negligenciadas. “A aids é completamente evitável”, afirma.
Ela diz que as famílias e as escolas precisam discutir o HIV e o sexo. E que os jovens precisam de clínicas receptivas para os adolescentes. Para que, assim, eles não tenham medo de procurar ajuda por causa da desaprovação do adulto.
“Não são apenas os jovens que têm sido atingidos por esta doença, mas eles ficam em última análise. São eles que precisam ser empoderados para que possam realmente ser a geração que vai erradicá-la. Mas eles têm carregado esse fardo por tanto tempo sozinhos. Nós ficamos muito atrasados para fazer algo, se tratando dos adolescentes.
Tradução: Mauricio Barreira, da Agência de Notícias da Aids
Fonte: The Guardian
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