(Câmara Notícias, 11/06/2015) Ministério da Saúde considera que a epidemia de aids está relativamente estabilizada, com média de 39 mil novos casos por ano
O diretor do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, afirmou nesta quinta-feira (11) que o Brasil teve queda na mortalidade entre as pessoas que têm HIV/aids. Ele ressaltou, no entanto, que há necessidade de um novo modelo assistencial para os portadores do vírus.
“HIV e aids tiveram uma queda da mortalidade, com aumento da sobrevida importante. Muitas opções terapêuticas, poucos comprimidos por dia, poucos efeitos colaterais e um alto sucesso terapêutico”, declarou, em audiência da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.
Mesquita disse, no entanto, que a linha de cuidado de HIV/aids precisa contar com mais serviços de diferentes complexidades, com ampliação do acesso e qualidade. “Um novo modelo de atenção é uma questão desafiadora neste momento”, disse.
Dados do Ministério da Saúde revelam que a taxa de mortalidade por aids no Brasil caiu 15,6% entre 2003 e 2014. O ministério considera que hoje a epidemia de aids está “relativamente estabilizada”, com média de 39 mil novos casos por ano e taxa de detecção de 21 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.
Apesar de estabilizada, a epidemia é concentrada: 0,4% na população geral e 5% principalmente nos grupos de homossexuais masculinos, usuários de drogas e profissionais do sexo.
Outro aspecto que chama a atenção é o crescimento da contaminação pelo vírus HIV de pessoas jovens. Há também diferenças regionais da incidência da doença, com o Rio Grande do Sul, por exemplo, apresentando taxa 5 vezes maior do que a registrada nacionalmente.
Momento crítico
Ainda que os dados do Ministério da Saúde demonstrem queda nas mortes por aids, o representante do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Granjeiro, disse que o cenário atual preocupa.
Granjeiro defende a estruturação de um modelo de cuidado em que a atenção básica cumpra papel estratégico, alinhada aos centros de especialidades, mas dando prioridade a questões até hoje não resolvidas, como a transmissão vertical do HIV, ou seja, aquela passada de mãe para filho.
O especialista avalia que este é um momento crítico da epidemia. “Estamos de fato num momento de reconhecimento da epidemia, me parece que nós estamos no pior estágio da epidemia nesses 30 anos. Precisamos usar melhor os recursos disponíveis na sua globalidade, sem desprezar nenhuma das questões que estão disponíveis, fundamentalmente, melhorar a qualidade de serviço, ampliar o financiamento e mobilização social”, afirmou.
Combate à discriminação
O representante do Grupo Incentivo à Vida, Jorge Beloqui, disse que todos precisam ter humildade, principalmente os gestores, em reconhecer o momento grave da aids no País. Beloqui também cobrou a adoção de metas para diminuir a discriminação. Segundo ele, muitos portadores do vírus preferem não ter atendimento perto de casa para não serem alvo de discriminação na vizinhança.
A discriminação é tema de um projeto apresentado pelo deputado Chico D’Angelo (PT-RJ), um dos autores do requerimento para a audiência desta quinta-feira. “Apresentei projetos nessa área de não discriminação, por exemplo, de portadores de HIV/aids na questão do trabalho.”
O deputado destacou ainda que as políticas formuladas pelo Ministério da Saúde são implementadas em parceria com os governos estaduais e municipais, fazendo com que avanços no combate à doença sejam mais efetivos em algumas localidades do que em outras.
Idhelene Macedo; Edição – Pierre Triboli
Acesse no site de origem: Debatedores pedem novo modelo de assistência às pessoas com aids (Câmara Notícias, 11/06/2015)