(Agência Aids, 14/09/2015) Para uma cidade que tem 57 mil pessoas vivendo com HIV/aids, um dos grandes desafios da Saúde é reforçar a prevenção, abrindo mão do que for possível, tanto com novas como velhas tecnologias. E focar nas populações-chave. Esses foram os assuntos discutidos nesta segunda-feira (14), durante a abertura do 1º Encontro de Prevenção das DST/Aids do Município de São Paulo. “Estamos falando do fim da epidemia em 15 anos. Então, temos muito a fazer”, disse a coordenadora municipal de DST/Aids da cidade de São Paulo, Eliana Gutierrez.
O evento, no Centro de Convenções Rebouças, vai até amanhã (15) com a participação de cerca de 300 profissionais da rede municipal de Saúde de São Paulo, agentes de prevenção e integrantes de organizações da sociedade civil. O objetivo é, além de discutir novas tecnologias, compartilhar conhecimentos sobre novas políticas públicas. O secretário municipal de Saúde de São Paulo, Alexandre Padilha, prestigiou a abertura.
“Sou de uma geração de médicos que aprendeu muito com a epidemia de aids”, disse Padilha, o aniversariante do dia. Em homenagem a ele, um coro na plateia, puxado por Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, cantou timidamente “Parabéns a Você”.
Para o ex-ministro da Saúde (foto abaixo), o Brasil continua protagonista na luta contra aids. “Mas não podemos tapar o sol com a peneira e achar que está tudo bem. Temos de admitir que ter uma epidemia concentrada não é bom”, continuou Padilha. “Muita gente está sendo afetada. Temos de nos aproximar cada vez mais das populações-chave para pensar juntos políticas de prevenção. Precisamos apoiar as travestis, ouvir mais os jovens.”
A primeira roda de conversa, com o tema “Onde estamos e o que queremos?, juntou as três esferas do governo. Eliana Gutierrez disse que o momento histórico da epidemia é precioso para redefinir novas e velhas práticas de prevenção. “Nossas estratégias primárias ainda não se esgotaram. Precisamos facilitar cada vez mais o acesso ao preservativo, por exemplo”, defendeu. “Temos de pensar que testagem é prevenção, tratamento é prevenção, facilitar o acesso ao preservativo também é prevenção.”
A coordenadora contou que, em São Paulo, o acesso ao preservativo vem sendo ampliado dia a dia. A distribuição não se restringe mais aos postos de saúde. “Há um ano, lançamos o Jumbo, um dispensador de camisinhas que instalamos nas ruas e praças”, disse. Cada unidade do Jumbo armazena 16 mil preservativos, há 27 unidades espalhadas na cidade e as pessoas podem pegar quantas camisinhas quiserem, a hora que quiserem.
Outra iniciativa citada por Eliana envolve os beneficiários do programa De Braços Abertos, no centro de São Paulo, que passaram a atuar como agentes de prevenção. Pedalando triciclos, eles percorrem estabelecimentos de entretenimento adulto, como boates, bares, prostíbulos e cinemas de “pegação” concentrados na região central, entregando camisinhas e material impresso informativo.
Prevenção combinada
A enfermeira Regiani Nunes, da área de Prevenção do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, pediu uma atenção maior para as populações-chave. Ela defendeu a prevenção combinada, conceito estabelecido em 2009, que nada mais é do que o uso simultâneo de diferentes abordagens.
“Quando combinada, a prevenção atinge todas as especificidades. O Brasil tem em média 39,6 mil novos casos de aids por ano. Ou seja, 0,4% da população brasileira vive com a doença. No entanto, quando você analisa esses dados de forma detalhada verifica que entre os usuários de drogas o número salta para 5,9; nos usuários de crack foi registrado uma prevalência de 5,0. Na população de gays e os HSH (homens que fazem sexo com homens) a prevalência sobe para 10,5 e entre os profissionais do sexo é de 4,9″, disse Regiani.
Outro dado destacado por Regiani mostra o crescimento da epidemia entre os mais jovens. Em 2013, foram notificados 4.414 casos de aids entre a população de 14 a 29 anos — isso representa 12,7 casos por 100 mil habitantes. “Para atingir as metas mundiais de aceleração da resposta à epidemia e reduzir em 75% os novos casos de aids até 2020 é preciso ampliar as possibilidades de prevenção e o Departamento está apostando na prevenção combinada. Temos que trabalhar com gerenciamento de risco, testagem regular do HIV, PEP (profilaxia pós-exposição), exames de HIV no pré-natal, redução de danos, tratar outras DSTs, ampliar a distribuição do preservativo.”
O Estado
A coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, Maria Clara Gianna, também defendeu a ampliação das possibilidades de prevenção. “Em 1995, registrávamos 37 novos casos de aids por dia, em 2012 , o número caiu para 17, mas precisamos avançar. Hoje, temos 112 mil pessoas vivendo com aids no estado, dessas, 95 mil em tratamento antirretroviral.”
Maria Clara apresentou alguns projetos que o estado vem adotando para frear a epidemia. Entre eles, a campanha Fique Sabendo, que no ano passado atingiu 470 municípios. A estratégia visa ampliar a testagem do HIV em diferentes lugares. “Estamos pensando em prevenção combinada com foco em populações-chave, mas sem deixar de lados os direitos humanos”, disse Maria Clara.
“Neste momento, estamos trabalhando uma linha de cuidado que visa fortalecer a atenção básica para as ações de prevenção, o diagnóstico precoce, a atenção às DSTs e o controle da transmissão vertical do HIV. E o nosso maior desafio é atingir as populações-chave. 31% dos casos de aids no estado são em HSH.”, completou a coordenadora estadual.
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