Sonia Corrêa afirma que debate na Argentina deve estimular países vizinhos a rever suas legislações
(O Globo, 27/02/2018 – acesse no site de origem)
Após o governo argentino decidir iniciar no Congresso o debate sobre a interrupção voluntária da gravidez, a antropóloga Sonia Corrêa, que é coordenadora do Observatório de Sexualidade e Política, destaca avanços recentes na América Latina e se diz otimista quanto à mobilização argentina.
Qual é a sua avaliação do que acontece na Argentina?
A campanha pela legalização do aborto lá começou, de forma estruturada, em 2004, e desde então nunca perdeu força. Agora, pela primeira vez, o Estado dá uma resposta. O país teve avanços recentes em relação a reconhecimento da identidade de gênero e legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas o aborto era uma dívida pendente.
Há chances reais de descriminalização total por lá?
Existe um clima histórico bastante favorável à descriminalização. Está se formando uma coalizão transpartidária para aprovar o tema.
Qual deve ser o impacto disso na América Latina?
Os outros países tendem a ser influenciados. No caso da Argentina, a influência mais direta foi o Uruguai, que legalizou o aborto em 2012. Nos últimos 30 anos, a América Latina teve grandes retrocessos, com cinco países proibindo o aborto em qualquer situação (Chile, Honduras, El Salvador, Nicarágua e República Dominicana). Então vejo com bons olhos o fato de que houve avanços de 2006 para cá: a Colômbia ampliando sua lei em 2006, a Cidade do México autorizando totalmente o aborto em 2007, o Brasil permitindo em casos de anencefalia em 2012, o próprio Chile saindo da proibição absolutista, no ano passado. O debate argentino deve jogar ainda mais água no moinho.