(Folha de S. Paulo, 02/08/2014) Todo mundo tem o direito de se proteger da infecção por HIV. Todos também têm o direito de escolher a solução mais adequada às suas necessidades individuais.
A história da saúde pública revela claramente que “uma única solução não serve para todos” –quando as soluções são personalizadas para as necessidades das pessoas, resultam em benefícios econômicos e sociais em grande escala.
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A resposta à Aids é testemunha disso. As novas infecções por HIV caíram 38% desde 2001. No entanto, se quisermos alcançar a meta de acabar com a epidemia de Aids, temos de fazer muito mais.
Uma forma estratégica de fazer isso é concentrar os esforços nos lugares onde a epidemia está, cidade por cidade, local por local, e em populações-chave em maior risco.
Os gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) se destacam muito claramente como vulneráveis em todos os lugares. Sem exceções. Homens que fazem sexo com homens têm 19 vezes mais chance de se infectarem por HIV do que a população em geral.
Na América Latina, as novas infecções por HIV estão aumentando, principalmente devido ao aumento de novas infecções entre HSH. Em outros lugares, os HSH também estão sendo desproporcionalmente afetados. Um número significativo de novas infecções por HIV na Ásia, na África, na América do Norte, na Europa ocidental e na oriental estão ocorrendo entre esses homens.
Entretanto, em todo o mundo, apenas 1 em cada 10 gays e outros HSH recebe um mínimo de serviços de prevenção contra o HIV. Isso é inaceitável. Essa desatenção é em parte explicada pelo fato de os serviços serem inadequados às necessidades desses homens, além de essas populações enfrentarem estigma e discriminação.
Homens que fazem sexo com homens precisam ter acesso a serviços de prevenção que se relacionem com essa comunidade. É nesse contexto que o uso de medicamentos antirretrovirais pode inclinar a balança em favor desses grupos. Porém, tem de ser voluntária e feita pelo próprio indivíduo a escolha pelo uso de medicamentos antirretrovirais –usados no tratamento de quem já tem HIV– como profilaxia préexposição, ou seja, antes de um possível contato com o vírus.
A recomendação da Organização Mundial de Saúde pelo uso de medicamentos antirretrovirais como profilaxia pré-exposição oferece mais uma opção de prevenção, somados a preservativos e lubrificantes para o sexo seguro. Ela também oferece a eles a oportunidade de manterem contato com o sistema de saúde de forma regular para que possam acompanhar o estado de sua saúde sexual. Ademais, o acesso o mais cedo possível a medicamentos antirretrovirais como tratamento é necessário para homens com práticas homossexuais vivendo com HIV.
Quando gays e outros HSH vivendo com HIV têm acesso ao tratamento e reduzem a quantidade de vírus em seus corpos, interrompem a transmissão de HIV e têm óbvios benefícios clínicos. O acesso a medicamentos antirretrovirais –para gays e outros HSH com e sem HIV– multiplica os benefícios preventivos e contribui, por fim, para acabar com a epidemia de Aids nessa população.
O sucesso das estratégias de prevenção da Aids depende fundamentalmente do conhecimento do seu status sorológico para o HIV por cada pessoa e do empenho de cada comunidade em tomar a luta contra a Aids como sua
Na verdade, já é hora de a comunidade gay mobilizar novamente e reenergizar o movimento contra a Aids. Ela iniciou a luta para impedir que a epidemia de Aids fugisse do controle –coisa que o mundo finalmente conseguiu fazer. Agora a comunidade gay tem a oportunidade de acabar com a epidemia de Aids.
Acesse o PDF: É possível acabar com a epidemia de Aids, por Luiz Loures (Folha de S. Paulo, 020/08/2014)