(O Estado de S. Paulo) Colunista do The New York Times e ganhador de dois Prêmios Pulitzer, Nicholas D. Kristof escreve sobre o impacto que o misoprostol, um medicamento originalmente usado para prevenir úlceras do estômago, pode ter na redução do número de mortes de mulheres por aborto.
O colunista pergunta: “será que o impasse global sobre o aborto, que dura décadas, poderá ser encerrado graças a pequenas pílulas brancas que custam menos de US$ 1 cada uma? Talvez sim, porque essas pílulas já começaram a revolucionar o aborto em todo o mundo, principalmente nos países pobres, permitindo salvar a vida de dezenas de milhares de mulheres a cada ano”.
Kristof informa que cerca de 80% dos abortos provocados acontece em países em desenvolvimento, onde a falta de esterilização adequada torna o procedimento muito perigoso. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 70 mil mulheres morrem anualmente em consequência de complicações do procedimento.
Essa estratégia é chamada “aborto médico”. Ela consiste basicamente na ingestão de duas pílulas “M”. A primeira é o mifepristone, anteriormente conhecido como RU-486, e a segunda, um dia ou dois mais tarde, o misoprostol.
A utilização destes produtos combinados produz o aborto em mais de 95% dos casos, no início da gestação. Mas o mifepristone é difícil de obter em grande parte do mundo, porque é usado somente para induzir abortos. No entanto, o misoprostol é de amplo acesso e de difícil proibição, pois é usado também contra úlceras. Segundo os pesquisadores, o uso do misoprostol sozinho faz a eficácia cair para 80 a 85%.
“O aborto médico representa uma revolução para a saúde reprodutiva das mulheres”, disse Dana Hovig, da Marie Stopes International, um grupo de ajuda que oferece serviços de saúde da reprodução em 43 países em todo o mundo. “Salva a vida de mulheres e tem um enorme potencial para permitir a realização de abortos seguros a um custo mínimo.”
Usando-se esse processo, o aborto médico não se distingue do espontâneo, o que é importante para as mulheres nos países nos quais correm o risco de ser presas se procurarem a ajuda de um hospital depois de um aborto malfeito. Um risco mais grave é a suspeita de que o misoprostol cause malformações, talvez em 1% dos nascimentos, mas somente se falhar e a gravidez continuar até o fim.
O colunista informa que o Brasil e outros países tentaram restringir a venda do misoprostol por sua utilização como abortivo e diz que “enquanto a novidade espalha-se entre as mulheres de todo o mundo, é difícil saber se os políticos conseguirão frear esta revolução ginecológica”.
Leia o artigo na íntegra: Uma nova pílula revolucionária, por Nicholas D. Kristof (O Estado de S. Paulo – 04/08/2010)