(Agência de Notícias da Aids) Lideranças do movimento Cidadãs PositHIVas se dizem “indignadas” pela maneira na qual o Unaids fez recentemente o lançamento do livro Mulheres+ em preto, branco e vermelho. Personagens da publicação que conclui um projeto envolvendo mulheres brasileiras e africanas, as ativistas criticam a não participação de mulheres com HIV durante a distribuição do livro Moçambique e o formato como o material foi produzido até o momento, apenas em DVD e para a internet. Segundo o Unaids, não houve um evento de lançamento, mas uma boa oportunidade de divulgar o material que já estava ficando defasado. O órgão ressalta ainda que procura apoio de outras agências das Nações Unidas para imprimir o material e fazer chegar a todos os participantes do projeto.
“Pra gente este lançamento não valeu. Não faz sentido nenhum divulgar o material num evento político, sem a participação das mulheres com HIV e aids, as verdadeiras protagonistas do livro”, disse Nair Brito, Cidadã PositHIVa e uma das coordenadoras do Saber para Reagir em Língua Portuguesa, projeto que deu origem a produção do livro.
A publicação foi apresentada em 12 de ferreiro, na capital moçambicana, Maputo, durante a III Reunião de Ministros da Saúde da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa).
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Nair lamenta ainda o formato em que o material foi produzido. “Este livro foi feito para as mulheres com HIV e não para representantes políticos, mas 80% delas não poderão nem se ver no material porque não têm acesso ao computador, nem aos aparelhos de DVD”, acrescentou.
Para a ativista, o lançamento do material desta forma constitui uma “grave falha de posicionamento” das parcerias desenvolvidas no país para o enfrentamento da aids. “Não somos figurantes para fazerem propaganda com o nosso trabalho”, disse.
As também cidadãs positHIVas Jenice Pizão, de Campinas, e Sílvia Almeida, de São Paulo, concordam com Nair.
“Por que não foram chamadas, ao menos, algumas lideranças de Moçambique?”, pergunta Jenice. “Foi investido muito tempo e dinheiro neste projeto para ser divulgado assim, entregando o material apenas nas mãos das autoridades governamentais e não das ativistas. Mais uma vez, sinto que as mulheres com HIV dão o seu melhor e no final só aparecem os apoiadores”, completou.
Silvia também lamentou o fato do material, “feito em várias mãos”, ter sido divulgado sem a participação das mulheres com HIV. “É a história de vida delas que são contadas no livro. Histórias de superação… Sinceramente, ter sido divulgado assim perde a beleza e a importância do material”, afirmou.
A diretora do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e Aids (Unaids) no Brasil, Georgiana Braga-Orillar, explica que a proposta inicial era lançar o livro no ano passado, também em Maputo, mas no Congresso da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) sobre o HIV e Aids. No entanto, o evento foi adiado por várias vezes e acabou sendo cancelado. “O material estava esperando para ser lançado há mais ou menos um ano. Algumas autoridades que estão no livro já nem fazem mais parte do governo. Se demorássemos mais para lançá-la, a publicação iria ficar cada vez mais desatualizada”, disse.
Segundo Georgiana, não teve “um ato de lançamento” por isso não houve convites para qualquer personagem do livro. “Aproveitamos que ia acontecer uma reunião de Ministros da CPLP em Moçambique para entregar o material aos participantes e fazer a divulgação para a imprensa. Não teve nem uma sessão especial no evento para o lançamento, apenas entregamos junto com outros materiais”, justifica.
A diretora do Unaids reforça que está aberta ao diálogo com as Cidadãs PositHIVas e disposta a ajudar na procura de apoio para a impressão do material. “Estou vendo com outras agências da ONU se eles podem pagar pela impressão. Reconheço que o material impresso é melhor, sobretudo, para as mulheres da África, mas não temos fundos para isso. Por isso estou tentando ir além neste trabalho e procurar outros apoiadores”, comentou.
Georgiana disse ainda à Agência de Notícias da Aids que o conteúdo do material está disponível para as Cidadãs PositHIVas imprimirem e, se tiverem interesse, fazerem um evento de lançamento. A diretora informa, no entanto, que não está nos planos do Unaids fazer um evento especial para o lançamento do livro.
Saber para Reagir em Língua Portuguesa
O projeto, criado em 2010 pelas Cidadãs PositHIVas e Unaids com apoio do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e outras agências da ONU, envolveu cerca de 200 lideranças femininas do Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Por meio de encontros e trocas de experiências nesses países, buscou-se fortalecer a prática do ativismo e a participação social pelos direitos humanos, questões de gênero, direitos à saúde sexual e reprodutiva, advocacy e controle social das políticas públicas locais com vistas à redução da vulnerabilidade feminina frente ao HIV e a aids.
Assista os vídeos do projeto