(Jornal do Comércio) Um grupo de 19 mulheres do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná, portadoras do vírus HIV, iniciaram ontem na Capital a 6ª Oficina do Projeto Saber para Reagir em Língua Portuguesa. A proposta do encontro, que vai até sexta-feira, é fortalecer o ativismo e o controle social das políticas públicas, para combater as desigualdades e ampliar o acesso de mulheres com Aids a serviços de prevenção, tratamento e apoio em países onde a língua oficial é o português. A importância de reunir mulheres que vivem na região Sul do País é explicada pela alta incidência da doença nos três estados.
De acordo com dados divulgados no ano passado pelo Ministério da Saúde, o Rio Grande do Sul é o estado com o maior índice de casos de Aids no Brasil, enquanto Porto Alegre é a capital com a pior estatística. O Estado lidera o ranking de incidência do vírus por 100 mil habitantes, com 27,7 casos. A Capital apresenta 99,8 casos a cada 100 mil pessoas.
“A região Sul é a que requer mais esforços no combate a epidemia de Aids no País. As mulheres que estão participando do evento convivem com o HIV e têm uma meta importante: não morrer. O primeiro passo é entender que é possível viver com o vírus”, explica a pedagoga Nair Brito, coordenadora do projeto. Para ela, a única maneira de enfrentar a doença é combater o estigma e o preconceito.
Além disso, o grupo trabalha para disseminar a importância do diagnóstico precoce. Muitas mulheres contraem o vírus de seus maridos, sendo surpreendidas tardiamente com um exame positivo. Algumas descobrem que são portadoras apenas na gravidez, quando realizam o pré-natal. Para Nair, os grupos de discussão entre pessoas de diferentes localidades proporcionam a divulgação de uma realidade que é preocupante. “São 30 anos de epidemia. Ainda se infectam 30 mil pessoas por ano no País. Além disso, 12 mil morrem de Aids a cada ano. Nestas três décadas, poderíamos ter patamares menores”, critica.
O acesso ao medicamento para o HIV no Sistema Único de Saúde (SUS) é considerado bom pelas portadoras. A Aids não tem cura, mas os pacientes dispõem de tratamento oferecido gratuitamente pelo SUS. O remédio prolonga a sobrevida e melhora a qualidade de vida do paciente pela redução da carga viral e reconstituição do sistema imunológico.
Magda Aparecida Bueno, que convive há dez anos com o vírus, afirma que o remédio, embora apresente efeitos colaterais, permite uma maior expectativa de vida. “Sou fundadora de uma ONG na cidade de Vacaria. Estou nesse trabalho para disseminar a ideia de que é possível viver em equilíbrio com o HIV”, ressalta.
Além deste evento, várias atividades continuarão sendo realizadas até o final de 2012, com o objetivo de atrair para o movimento mais de 150 mulheres do Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe.
Leia em PDF: Mulheres se unem para combater estigma da Aids (Jornal do Comércio – 19/06/2012)