(Folha de S.Paulo) Vladimir Safatle, professor do departamento de Filosofia da USP, comenta a ausência, no debate eleitoral, da pauta sobre a normatização pelo Estado do corpo e da sexualidade.
“Os últimos 40 anos viram a paulatina institucionalização da consciência de que o Estado deve afastar-se, ao máximo, da tentação de legislar sobre os corpos e sobre a sexualidade de seus cidadãos. (…) Essa indiferença necessária do Estado poderia abrir o espaço para a ampliação do processo de reconhecimento social das diferenças e de universalização de direitos. Esse foi um dos motores para que o aborto e a modificação da estrutura do casamento fossem aceitos em boa parte das sociedades democráticas. No entanto, o Brasil continua inexplicavelmente na contramão desse processo.”
Citando o exemplo do aborto, Safatle lembra que, na década de 80, uma artista plástica norte-americana, Bárbara Kruger, fez um cartaz pró-aborto em que se lia: “Seu corpo é um campo de batalha”. “De fato, essa é a perspectiva correta para a abordagem do problema. É necessária muita imaginação para levar a sério o dogma de que um feto do tamanho de um grão de feijão, absolutamente dependente do corpo materno, teria o mesmo estatuto jurídico que uma pessoa”, argumenta o professor.
Sobre a união de homossexuais, Vladimir Safatle defende que “é dificilmente compreensível que ela não esteja na pauta do debate eleitoral. Sua proibição estigmatiza uma parcela da população e cria constrangimentos sociais que nunca poderiam ser aceitos por uma sociedade que luta pela efetivação de princípios igualitários”.
Leia na íntegra: O corpo como campo de batalha, por Vladimir Safatle (Folha de S.Paulo – 20/09/2010)