(UOL, 27/07/2016) TV liberada só depois dos oito anos de idade. Alimentação tão saudável a ponto de deixar Bela Gil com inveja. Essas eram algumas das expectativas que Helen Ramos tinha da maternidade antes de dar à luz o filho Caetano, hoje com dois anos e meio. Só que a realidade –como todo mundo que tem filhos pequenos sabe– é bem diferente daquela idealizada. E foi exatamente para “desromantizar” a maternidade que a jornalista lançou o canal “Hel Mother” no YouTube.
“Sempre quis ser mãe, mas achava que só rolaria quando estivesse mais estável e bem-sucedida. Engravidei inesperadamente aos 25 anos e abracei a ideia. Tive o apoio da minha família, mas eles moravam em Brasília e eu em São Paulo. Achava que ia dar conta de cuidar dele sozinha aqui, mas não dei e precisei voltar pra Brasília e esperar ele ficar um pouquinho maior”, relembra.
Para Helen, a idealização da maternidade promove uma falta de diálogo que deixa as mães perdidas. “Quando comecei a entrar em grupos de mães ainda era julgada, custei para encontrar um em que as pessoas se compreendessem. Quando você chega em um grupo e vê que aquela determinada situação acontece com outra pessoa, que é normal, você se sente acolhida, se identifica. Você vê que ser mãe é ter falhas, dúvidas, cansaço, é precisar pedir ajuda”, afirma a youtuber.
A jornalista acredita, inclusive, que a sociedade falha muito com as mães nos mais diversos aspectos, responsabilizando-as sempre. “Várias vezes já li material de psicólogas renomadas culpando as mães por tudo. É preciso ter um senso crítico muito grande para ler, filtrar e continuar bem consigo mesma como mãe”, exemplifica.
A ideia do “Hel Mother”, segundo Helen, é mostrar o mundo materno com altas doses de humor. O canal já está no ar há mais de dois meses e é feito por ela e mais três amigas: Mariana Lerroy, Carla Ribeiro e Mariana Betoni, que insistiram e deram o pontapé inicial para que Helen gravasse e compartilhasse suas opiniões. “Os vídeos chegam mais rápido às pessoas e todo mundo compartilha, manda por WhatsApp e, assim, as mães e a sociedade como um todo se sentem abraçados e acolhidos.”
Um dos vídeos mais acessados do canal, “Expectativa X Realidade”, trata exatamente de como Helen achou que seria a maternidade e depois como esta se mostrou para ela. Outro vídeo que também fez sucesso foi o “Mãe Solo” em que a youtuber propõe excluir o termo “mãe solteira” –afinal, desde quando mãe é estado civil?
“Se eu conseguir provocar um questionamento, nem que a pessoa não concorde, só de a fazer parar para pensar, já fico feliz, pois é muita coisa enraizada na nossa cultura. ‘O pai ajuda’. ‘A mãe solteira‘. Às vezes nem acho que as pessoas falem por maldade, mas são comportamentos que elas repetem e não se questionam sobre o porquê daquilo”, afirma.
O retorno mais gratificante para Helen são as mensagens e e-mails que recebe dos expectadores do canal. “Tem muita gente que reflete e fala ‘poxa, eu realmente parei de chamar a minha amiga que foi mãe para sair, vou voltar a fazer isso’, mas também ainda tem muitos casos de mãe solo com problema de pensão. As mulheres ainda têm medo de entrar na justiça e pedir por esse direito, pois acham que é esmola”, afirma.
Outro questionamento de Helen que já virou tema de vídeo é a necessidade de trabalhar e, ao mesmo tempo, educar e conviver com o filho. “A longo prazo essa carga horário de oito horas, que acabam virando 12, não é benéfica para ninguém. Não são só as mães que precisam ter licença para cuidar dos filhos, os pais também. É preciso mudar a estrutura trabalhista. Quando você tem um filho, você começa a perceber que vai ficar dez horas fora de casa e quanto tempo ficará junto com ele? Educando e formando o caráter do cidadão de amanhã… Que horas faremos isso? Só no fim de semana?”, questiona.
Thamires Andrade
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