Estamos em marcha: o Julho das Pretas do Mulheres Negras Decidem nos territórios, por Fabiana Pinto, Stephane Ramos e Movimento Mulheres Negras Decidem

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

29 de julho, 2025 Gênero e Número Por Fabiana Pinto, Stephane Ramos e Movimento Mulheres Negras Decidem

O movimento de mulheres negras não é um acontecimento recente na história. Desde sociedades matriarcais do continente africano até a organização de mulheres negras em diáspora, são muitos os exemplos que demonstram as potencialidades femininas – antes mesmo de o termo feminismo ser criado no século XIX.

No ano de 1992, na República Dominicana, realizou-se o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas. Esse evento ocorreu no dia 25 de julho e debateu a incidência política e social de mulheres negras ao redor do mundo. Além disso, propôs alguns direcionamentos para pensar a articulação internacional das lutas antirracistas, anticoloniais e feministas nas Américas e no Caribe.

O movimento de mulheres negras brasileiras, que também tem um extenso histórico de lutas e mobilizações, se organizou em 2013 para pautar a implementação do dia 25 de julho (tendo como referência a data do encontro de 1992) como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

A Lei nº 12.987, sancionada em 2014, instituiu oficialmente o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A data, que já era símbolo da resistência de mulheres negras na América Latina e Caribe desde o encontro de 1992, passou a integrar o calendário oficial brasileiro como forma de reconhecer a contribuição histórica, política, social e cultural das mulheres negras na construção do país. Consolidou no calendário, também, a valorização da memória, da resistência e do protagonismo das mulheres negras na construção da sociedade.

Ao homenagear Tereza de Benguela, líder quilombola que, no século XVIII, comandou o Quilombo do Quariterê por duas décadas no atual estado de Mato Grosso, a lei afirma a centralidade das mulheres negras na luta por liberdade, justiça e democracia, valorizando suas trajetórias de resistência ao racismo, ao sexismo e à exclusão estrutural.

Essa articulação entre marcos internacionais e nacionais revela a potência do movimento de mulheres negras em conectar memórias de luta com a disputa por reconhecimento e direitos no presente, atravessando fronteiras e fortalecendo redes transnacionais de solidariedade e enfrentamento ao racismo e ao sexismo estrutural.

O Mulheres Negras Decidem segue os passos trilhados por essas sujeitas que tanto se dedicaram e ainda se dedicam às nossas vidas. E é nessa mesma direção que, esse ano, lançamos a nossa primeira edição do edital interno Mulheres Negras Decidem nos Territórios: Ações Locais de Articulação Política. Ele contemplou dez ações de articuladoras do movimento em diferentes cidades brasileiras para chamar atenção para as mobilizações da Marcha Nacional de Mulheres Negras.

As ações ocorrem durante o Julho das Pretas. Desde o início do mês, nossas articuladoras políticas têm realizado atividades potentes em várias regiões do Brasil, conectando suas lutas locais às mobilizações nacionais do Julho das Pretas e da Marcha das Mulheres Negras 2025.

Nos conectamos também à mobilização do Plebiscito Popular 2025, que busca a redução da jornada de trabalho sem perda salarial, o fim da escala 6×1, a taxação de grandes fortunas e a isenção no imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. A consulta popular está aberta de julho a setembro, tanto online quanto em urnas espalhadas pelo país. Ele também tem ecoado em muitas dessas ações como estratégia de escuta e mobilização popular.

Nossa jornada teve início no dia 18 deste mês, com Ana Luz e Ester Sabino, em Vitória (ES), com o projeto “Eco-Elo: Territórios de Luta, Nossas Raízes, Nossos Sonhos”, fortalecendo conexões intergeracionais. No Distrito Federal, Glícia de Paula nos inspirou com o ciclo “Reciclar, Bem Viver e Sustentabilidade”, promovendo rodas de conversa e oficinas de móveis nos dias 12 e 19, na Saída Sul, enraizando práticas de autonomia e cuidado com o planeta.

Já em Goiânia (GO), no dia 20, Janira Sodré reuniu mulheres negras no Encontro Mulheres Negras de Goiás Decidem pelo Bem Viver, realizado no Coletivo Centopeia, fortalecendo os vínculos da política com o cotidiano.

No Recife (PE), Robeyoncé Lima convocou os versos do Slam das Minas no dia 25, reafirmando que a poesia também é política. Já no dia seguinte, o Movimento ocupou Belo Horizonte (MG), onde Andreza Mendonça e Flávia Tambor abriram o diálogo “Mulheres Negras em Movimento por Reparação e Bem Viver”, no Teatro Espanca.

Na Amazônia, Yasmy Bentes reuniu jovens negras em Macapá (AP) na atividade “Raízes de Poder”. somando à construção de uma nova geração de lideranças afro-amazônidas, elas discutiram a participação política de mulheres negras e possibilidades de construção no território amazônico.

No Recôncavo Baiano, mais especificamente em Muritiba (BA), acolheu no dia 27 a ação de Alessa dos Santos, com o projeto “Julho das Pretinhas – Heroínas Negras: Histórias que Inspiram o Bem Viver”, reafirmando que memória também é caminho para o futuro.

E as próximas semanas ainda prometem mais encontros: em Natal (RN), no dia 1º de agosto, Stéphanie Moreira realizará a quarta edição do Pretas Gingas, no Quilombo Flor de Milho, celebrando a arte e a autorrepresentação como formas de resistência.

No dia seguinte, em São Paulo (SP), Tátila Silva, na Brasilândia, realizará o encontro “Àwọn Ọmọbìnrin Bàbá – Memória Viva e Futuro das Mulheres Negras”, celebrando as ancestralidades em território urbano. Finalizaremos nossas atividades no Rio de Janeiro, no dia 9, quando Ariela Nascimento, Majô Ribeiro e Zuri Moura conduzirão a ação “Ser Mulheridade Negra: Jam Ball e Audiovisual Documental” na Casa das Pretas.

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