(Agência Brasil, 08/03/2016) Embora ainda tímido, o percentual de cerca de 40% de mulheres presentes em produções audiovisuais brasileiras é alto em comparação com a maioria dos países. Essa menor disparidade, no entanto, não tem sido capaz de melhorar a questão das representações de gênero nas produções brasileiras, ainda cheias de estereótipos e sexualização das mulheres.
O tema foi discutido no encontro O equilibro de gênero na mídia brasileira, promovido pelo Instituto Geena Davis, que há mais de dez anos se dedica a estudar e a ampliar a presença da mulher no audiovisual no mundo, e o Sindicato Interesta, na sede da Federação das Indústrias dos Rio de Janeiro, no centro da cidade.
A pesquisadora Caroline Heldman, professora de política do Occidental College, em Los Angeles, e conselheira da Geena Davis Institute for Gender in Media em pesquisas sobre gênero na mídia, lembrou que a exploração da imagem da mulher como objeto sexual é um problema mundial. “Não se trata de ser puritana, trata-se de questionar essa imagem, que deixa as mulheres em situação de subordinação”, declarou. “Após uma década de pesquisa, sabemos que essa mentira de que ser objeto sexual empodera é incrivelmente prejudicial para as meninas, causa desordens alimentares, depressão, complexo de inferioridade, entre outros efeitos negativos. Além disso, transformar pessoas em objetos é o primeiro passo para se praticar violência contra seres humanos”.
Para a diretora da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Rosana Alcântara, a subrepresentação feminina no audiovisual e os estereótipos estão relacionados ao pequeno número de mulheres nos bastidores das produções. “Apenas 23% dos roteiros para a TV são escritos exclusivamente por mulheres, apenas 19% das direções são exclusivamente femininas. No cinema, 40% dos longas-metragens foram produzidos por mulheres” disse ela. “Temos caminhado lentamente, mas é o início de um processo para conseguirmos cada vez mais papéis femininos representativos”, acrescentou, destacando que as mulheres têm tido cada vez mais participação na produção executiva de obras na TV, de quase 44%. Isso, segundo ela, facilita um olhar diferenciada dentro da indústria do setor, ainda muito masculino.
Rosana ressaltou que a Ancine tem buscado políticas e estratégias para incluir mais mulheres na produção, como a participação de pelo menos 50% nas comissões do Fundo Setorial do Audiovisual, principal financiador das políticas de fomento do setor.
Durante o evento, a presidenta do Instituto Genna Davis, Madeline Di Nonno, apresentou uma série de dados sobre representações de gênero no cinema e na televisão, entre eles os de uma pesquisa inédita sobre como os brasileiros veem a questão do gênero na mídia.
Madeline citou também estudo recente feito em nove países, que mostra que 80% das mulheres brasileiras consideram muito importante a presença de personagens femininos no cinema e na TV e que 69% delas consideram que há falta de personagens femininos representativos nessa área. Um terço disse ter saído de um relacionamento abusivo, inspiradas em personagens femininos.
Segundo ela, outro estudo revela que quando há mulheres participando do roteiro há um aumento de 7,5% na presença de papéis femininos nas produções e de 6,8%, quando há uma mulher na direção. “O impacto que a mídia tem nas pessoas é muito forte, principalmente sobre as crianças. A disparidade de gênero é enorme e isso se reflete na maneira como a mulher é valorizada na sociedade. As pesquisas e os dados têm servido para colocar a questão do gênero na agenda e evidenciar essas disparidades “.
Flávia Villela; Edição: Graça Adjuto
Acesse no site de origem: Disparidade de gênero no audiovisual é tema de encontro no Rio (Agência Brasil, 08/03/2016)