Agora, com o anúncio de que ela será fechada e substituída por outra em um ou dois anos, a desconfiança é que a comissão de autorregulação da imprensa inglesa esteja sendo apenas tirada do foco, para escapar das revelações que o inquérito Leveson fará até o final do ano.
E para evitar que suas revelações estimulem uma regulação estatal da imprensa -seguindo os modelos da Europa continental.
Desde o início do escândalo, com a evidência de que os crimes cometidos pelo “News” foram tratados com leniência pela PCC, não faltaram pedidos por sua extinção. E ao menos um parlamentar trabalhista defendeu que uma nova comissão tivesse o poder de “excluir” jornalistas da profissão.
Diante da confirmação de uma substituta para a PCC, outro trabalhista, que está à frente das investigações, Tom Watson, não conteve a ironia ao reagir ontem, via Twitter: “A PCC vai fechar e começar outra vez com novo nome. Presume-se que o novo logo terá três macacos”.
Para alguns, como a inglesa “The Economist”, o problema da PCC não foi a falta de “dentes”, de mecanismos para punir, e sim de “olhos”. Mas o que está sendo negociado, para o novo órgão de autorregulação, é que os grupos de comunicação aceitem sanções. Com poder de arbitrar e punir, a substituta da PCC teria “dentes”.
A imprensa inglesa está dividida, temendo que com tal configuração, em vez de conter a intervenção estatal, estaria na verdade sendo aberto o caminho para ela.
Para Jack Shafer, analista de mídia da agência Reuters, se for dada à nova comissão o poder de “policiar a imprensa, será um crime maior do que todos os grampos de telefone juntos”. Argumenta que não faltam leis para combater os desvios e que os jornalistas não devem ter tratamento especial. Nem regulação “voluntária”.
Leia em PDF: Análise: Sem “olhos” e sem “dentes”, autorregulação fracassa, por Nelson de Sá (Folha de S.Paulo – 09/03/2012)