(Rachel Donadio, de Roma, para o The New York Times/Folha de S.Paulo) Em duro e direto sermão, Bento 16 faz ataque a um grupo de padres austríaco que defende fim do celibato e ordenação de mulheres
Adotando o tom que lhe valeu o apelido de “rottweiler do Senhor”, o papa Bento 16 denunciou ontem a “desobediência” na igreja em uma homilia severa, censurando os sacerdotes reformistas que desejam a ordenação de mulheres e o fim do celibato.
Em referência a iniciativas recentes de clérigos austríacos e de outros países, o papa declarou que, embora esses sacerdotes afirmem agir motivados “pela preocupação com a igreja”, eles são movidos por “suas preferências e ideias pessoais” e deveriam optar pelo “radicalismo da obediência”, frase que captura a essência de seu pensamento teológico.
Foi um dos mais fortes e diretos sermões em sete anos de pontificado de Bento 16, dominados por escândalos sexuais envolvendo religiosos, disputas com outras fés e problemas na hierarquia do Vaticano.
O discurso também demonstrou que o papa, que vinha demonstrando cansaço aos 85 anos, parece ter recuperado a antiga forma, atuando como defensor da ortodoxia e demonstrando preferência por uma igreja menor, mas seguida com mais fervor, em lugar de uma maior que dependa de uma diluição na doutrina.
O papa pronunciou sua homilia na Basílica de São Pedro, na Quinta-Feira Santa, o dia em que os padres recordam os votos que fizeram ao serem ordenados.
Ele fez referência ao grupo austríaco Iniciativa Sacerdotal, que divulgou um “apelo à desobediência” conclamando a igreja a permitir a ordenação de mulheres, a abandonar as normas de celibato e a permitir que pessoas divorciadas comunguem.
A Iniciativa foi criada em 2006 pelo padre Helmut Schüller, ex-diretor da agência assistencial católica Caritas na Áustria, com o objetivo de combater a escassez de sacerdotes. Desde então, mais de 400 padres austríacos expressaram apoio a ele, segundo a imprensa local.
Padres nos EUA e em outros países da Europa fizeram o mesmo. O Vaticano teme que a iniciativa cause um cisma na igreja.
De sua parte, Schüller definiu o Vaticano como “monarquia absoluta” e disse que a resistência da igreja à mudança poderia resultar em ruptura, de qualquer forma. Em entrevista por telefone, Schüller se declarou surpreso com as palavras do papa.
“Mas não creio que tenham sido palavras tão ásperas. Não traziam ameaça ou sanção implícita”, disse.
Acesse em pdf: Papa cobra de reformistas ‘radicalismo na obediência’ (Folha de S.Paulo – 06/04/2012)