(Valor Econômico) A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e outros órgãos que atuam no planejamento da segurança da Jornada Mundial da Juventude identificam um nível máximo de ameaça ao evento nas manifestações populares e ações de grupos de pressão.
A jornada, que ocorre de 23 a 28 de julho, marcará a primeira visita do papa Francisco ao Brasil. Autoridades aguardam a presença de mais de 1,5 milhão de pessoas para seguir inclusive uma Via Sacra em toda a orla de Copacabana, com a presença do papa Francisco.
As “fontes de ameaça” à jornada estão listadas em um painel eletrônico no Centro de Integração Nacional, na sede da Abin, em Brasília, onde se reúnem os órgãos integrantes do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin).
Os níveis de ameaça são atualizados no painel em tempo real e marcados com uma seta, variando nas cores verde, laranja e vermelho. O quadro é uma espécie de “iceberg” das avaliações de risco da Abin.
A atuação de grupos de pressão é a única fonte de ameaça marcada em vermelho, como nível máximo de risco à Jornada da Juventude. “Diante das ações dessa fonte percebidas no país nos últimos meses, associadas às ações internacionais relacionadas a grandes eventos desse teor, considerou-se tendência de manifestação positiva durante o evento”, diz o painel.
O risco da atuação de movimentos reivindicatórios, por outro lado, foi classificado como de nível médio: “Apesar de iniciativas de caminhoneiros, médicos e sindicatos variados promovendo manifestações/greves nas últimas semanas, não há subsídio suficiente para estabelecer tendência para esta fonte de ameaça.”
A criminalidade comum também recebeu um alerta laranja, de nível médio. Segundo as informações do painel, “os índices de criminalidade desta região [Rio de Janeiro] estão dentro da normalidade”.
Estão classificados como fontes baixas de ameaça o crime organizado, a atuação de organizações terroristas e incidentes de trânsito.
No caso do terrorismo, o motivo é a ausência de indicativo de atuação de grupos terroristas no país. Quanto ao crime organizado, o painel informa que não há histórico de ação desses grupos objetivando afetar diretamente os grandes eventos.
Ontem, o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, José Elito Siqueira, recebeu jornalistas na Abin para uma visita ao Centro de Integração Nacional, criado para integrar as ações dos órgãos de inteligência durante os grandes eventos.
Na sala, cerca de 20 pessoas trabalham na frente de computadores, diante de telas conectadas a centros regionais de inteligência e que podem transmitir imagens ao vivo de câmeras em locais públicos – no Rio de Janeiro, por exemplo, a prefeitura tem cerca de 500 câmeras pela cidade, segundo o ministro. Durante a visita dos jornalistas, duas das telas refletiam imagens do Google Street View, das cidades por onde o papa Francisco passará.
Segundo o ministro, todos os movimentos que podem afetar de alguma forma os grandes eventos são monitorados. Apesar do nível máximo de alerta das manifestações, o ministro diz que elas não serão um problema para a visita do papa. “Temos que encarar com total naturalidade e acompanhar para evitar que tenham repercussão para atrapalhar o grande evento”, disse.
De acordo com o ministro, os órgãos brasileiros tiveram várias reuniões com equipes de inteligência do Vaticano. Ele também falou que a jornada não representa um nível maior de complexidade para a atuação da inteligência em relação a eventos como a Copa do Mundo e das Confederações.
Internamente, na Abin, avalia-se que a Jornada da Juventude traz preocupações maiores de segurança, tanto pelo número alto de peregrinos quanto pela presença de uma celebridade internacional do porte do papa, tendo em vista um histórico de atentados a essa figura.
Há também preocupação com o deslocamento e o gerenciamento de multidões e em evitar que a criminalidade comum afete a segurança dos peregrinos.
Acesse o PDF: Protestos levam Abin a colocar visita do papa em nível máximo de ameaça (Valor Econômico – 17/07/2013)