(O Globo) Quando os defensores do casamento homossexual decidiram há quase cinco anos levar sua batalha legal para a Suprema Corte, a decisão deflagrou um espasmo de ansiedade entre os muitos líderes gays. Eles temiam que uma sentença desfavorável representasse um retrocesso em uma luta que muitos nunca realmente quiseram.
Mas a sentença da Suprema Corte, além de anular a lei federal que define o casamento como união entre um homem e uma mulher, permitindo o casamento gay na Califórnia, também deixou clara a rapidez com que mudou grande parte do país longe do tribunais. Decisões que somente três anos atrás teriam polarizado e até surpreendido serviram para ressaltar e ratificar grandes mudanças políticas ocorridas em grande parte dos EUA.
– As coisas estão dramaticamente diferentes hoje – disse Chad Griffin, presidente da Human Rights Campaign e fundador do grupo que contestou a proibição da Califórnia. – Quando entramos neste caso, havia três estados com casamento gay, um funcionário republicano que apoiava a igualdade no casamento, o vice-presidente Dick Cheney, e o apoio público variava entre 30 e 40%.
Os sentimentos contra o casamento gay permanecem elevados em muitos lugares. É expressamente proibido em 37 estados, o que pode definir o cenário para mais batalhas legislativas nos próximos anos. A oposição ao casamento homossexual continua alta entre os conservadores, e os protestos contra decisões dos tribunais país afora lembram quão visceral essa questão ainda é para alguns.
– Aqueles de nós que acreditam no casamento nunca vão aceitar isso – afirmou Frank Schubert, um estrategista político de Sacramento que liderou a luta para a iniciativa que proibia o casamento gay.
Mesmo assim, em anos de sinuosos caminhos pela Justiça, a causa ganhou o apoio do presidente Barack Obama e do vice, Joe Biden, nada menos que no meio de uma campanha. Bill Clinton, o presidente que assinara o Ato de Defesa do Casamento em 1996, pediu desculpas pelo que agora via como um grande erro. Senadores e membros do Congresso de ambos os partidos manifestaram seu apoio a casais gays. E o casamento do mesmo sexo agora é legal em 13 estados.
Houve mais que apoio político. Personagens gays e celebridades tornaram-se cada vez mais presentes na cultura popular, na televisão e, ao longo do ano passado, nos esportes e no rap . A notícia de que uma celebridade popular pretende se casar com alguém do mesmo sexo é noticiado em tom de comemoração na revista “People”, em vez de ganhar ares de escândalo.
E como o tribunal certamente notou nas suas deliberações, o sentimento do público sobre a questão do casamento gay mudou. É difícil imaginar um candidato democrata à Presidência ganhar a nomeação, em 2016, sem apoiar o casamento gay.
Um aspecto marcante das decisões judiciais é a medida em que elas refletem a opinião pública, de acordo com pesquisas. Hoje pelo menos 30% dos americanos já vivem em estados onde essa união é possível.
Acesse o PDF: Voz das ruas atropela tribunais (O Globo, 27/06/2013 – artigo publicado originalmente no “New York Times”)