Mulheres negras, jovens e com deficiência discutem políticas de inclusão

05 de setembro, 2016

Seminário da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres constata que, se o gênero feminino já é motivo de discriminação, as mulheres negras e com deficiência são duplamente penalizadas pelo preconceito.

(SPM, 05/09/2016 – acesse no site de origem)

O seminário na Casa Brasil sobre cidadania e políticas de inserção das mulheres no mercado de trabalho, inclusive através do esporte, entre outros temas, abriu espaço neste domingo (4) para discutir o preconceito contra as mulheres negras e com deficiência. A professora Benedita Martins, do Espírito Santo, apresentou um quadro de exclusão no estado onde mais da metade da população é negra.

“Muitos excluídos vivem nas periferias e comunidades quilombolas. Se as mulheres já sofrem discriminação pela questão de gênero, as negras são duplamente discriminadas”. Na opinião da educadora, estudar, trabalhar e lutar por direitos iguais foram caminhos trilhados por ela que resultaram numa vida dedicada à inclusão de mulheres especialmente de cor negra.

“A questão racial é determinante para a exclusão social e a qualificação para a inserção das negras no mercado de trabalho faz a diferença na obtenção de resultados”.

Josy Santos descobriu-se no movimento de mulheres quando saiu da periferia de Vitória (ES) e enveredou pela estética e moda voltadas para mulheres negras. Os pais foram assassinados e a jovem precisou conciliar estudos e trabalho com os cuidados das duas irmãs menores. De operadora de telemarketing à atendente e diretora de clínica médica, foi na qualificação profissional que Josy tornou-se independente.

Hoje, a jovem empresária negra, empreendedora e universitária, ressalta a importância da educação para inclusão no mercado de trabalho e independência da mulher negra.

Ainda no Espírito Santo, Valneide dos Santos foi entregue pelos pais, com um ano de vida, para uma família branca. A advogada redescobriu suas raízes quilombolas e milita no movimento de mulheres negras em defesa do direito ã terra.

Com as mulheres deficientes não tem sido diferente. Rosinha da Adefal, ex-vereadora de Maceió (AL) e ex-deputada federal, começou a luta pela inclusão de pessoas com deficiência ao ingressar na instituição que lhe emprestou o nome político. Através da natação, Rosinha despertou para a defesa dos direitos das mulheres e das pessoas com deficiência a partir da inclusão social. Atualmente, Rosinha é secretária Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério da Justiça e Cidadania. No Brasil, 45 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, um quarto da população brasileira, segundo o IBGE.

As mulheres são a maioria da população e também entre as pessoas com deficiência. As surdas, cegas e deficientes mentais são ainda mais discriminadas, segundo Rosinha. Mulheres indígenas, do campo, ribeirinhas e quilombolas também necessitam de políticas específicas, defende Rosinha. Em todas as situações, as mulheres com deficiência são discriminadas, tanto pelo gênero como pela vulnerabilidade, alerta a secretária. “Se o mercado de trabalho é difícil para a população dita normal, imagine se for uma mulher, negra ou com deficiência”.

Segundo Rosinha, quando todas essas barreiras são vencidas, mesmo com as políticas de cotas, os salários são diferenciados. No Time Brasil da Paralimpíada, dos 280 paratletas, apenas 100 são mulheres. No atletismo, por exemplo, são 37 homens e 24 mulheres.

Pedro Neves ficou na 39ª posição e, mesmo fora da competição, o medalhista de ouro no salto em distância, no Parapan de Toronto, no Canadá, não parou de treinar. O paratleta também é negro e filho de negra.

A mãe e duas tias foram criadas em um orfanato, se separaram e, depois, se reencontraram em Copacabana, no Rio de Janeiro, todas trabalhando como empregadas domésticas. Salvo pelo esporte, o paratleta busca a inclusão de negros com deficiência e jovens infratores. Uma trajetória não muito diferente dos relatos das mulheres negras.

No Rio de Janeiro, a prefeitura já trabalha em parceria com instituições de cegos e surdos, onde mulheres com deficiência recebem tratamento diferenciado por causa dos relatos de violência. Segundo a subsecretária de Políticas para as Mulheres da cidade do Rio de Janeiro, Kátia Lobo, cartilhas em braile e DVDs estão sendo lançados, em setembro, alertando surdos e cegos para a violência contra mulheres com deficiência. “Uma mulher empoderada e independente corta o ciclo de violência”, afirmou. “Somos 53% da população, mães dos outros 47% e ainda ocupamos menos de 10% dos espaços de poder. Ganhamos 30% menos e, se somos negras, menos ainda”, denuncia.

Diante das posições nos debates, Aparecida Moura, da Secretaria Nacional de Política para Mulheres, disse que vai investir em capacitação profissional, formação e programas de inclusão e cidadania. “Estamos comprometidas com resultados e ações concretas”, afirmou.

Equipe Casa Brasil

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