Candidatas dizem quais são os maiores desafios de ser mulher na corrida eleitoral

20 de agosto, 2018

Ser mulher no Brasil é um desafio diário por conta das altas taxas de feminicídio, assédio e violência. Imagine, então, ser uma mulher que está em um espaço em que homens são maioria? Ser mulher na política tem desafios peculiares. Um dos maiores é, simplesmente, ser levada a sério quando se apresenta um projeto.

(Yahoo Notícias, 20/08/2018 – acesse no site de origem)

Marina Helou, 30 anos, é candidata à deputada estadual pela Rede Sustentabilidade e afirma que o tema de representatividade de mulheres dentro da política sempre esteve presente em sua vida. “Eu sempre entendi que o lugar da mulher é onde ela quiser”, afirma.

Segundo ela, a política ainda não é um espaço acolhedor para as mulheres, mas é preciso mudar essa perspectiva e votar cada vez mais em candidatas. “Quando a gente pensa em político, a gente ainda pensa em um homem mais velho, mas enquanto a gente tiver uma ideia de que política é só para alguns, a gente nunca vai ter uma democracia”, pondera.

Marina, que já foi candidata à vereadora em 2016, afirma que a experiência da corrida eleitoral foi “muito profunda”. Hoje, ela diz que suas principais lutas como candidata envolvem a maior atenção à primeira infância, saneamento básico e segurança pública.

Porém, a candidata conta que, muitas vezes, não tem a oportunidade de falar sobre suas propostas por ter que sempre explicar por qual motivo ela está disputando aquele espaço de poder. “Existe o desafio de ser vista como uma candidata que é preparada e que tem propostas”, constata.

Mãe de um menino de nove meses, ela também observa que existem muitos questionamentos sobre o espaço comportar crianças. “Tem que ser um espaço preparado para receber ele”, afirma.

Juliana Cardoso, 29 anos, é candidata à deputada federal pelo Partido da República (PR) e concorda com Marina quando o assunto é ser subestimada nos espaços de poder. “Eu passei por vários partidos, mas ainda há muito desrespeito às mulheres”, afirma.

Segundo ela, além do problema do assédio, também é preciso ter pulso firme na hora de defender seus projetos. “Tem muito de não respeitarem sua fala, de te cortarem quando você está falando”, relata a candidata que também diz se incomodar quando os partidos colocam mulheres na política por ser algo obrigatório.

“Você tem que cavar e tem que estar muito empenhada”, afirma a candidata que garante ter como uma de suas plataformas o empoderamento feminino. Dentre suas propostas para as mulheres estão a efetiva aplicação da Lei Maria da Penha, o investimento na saúde da mulher e a adequação dos horários de creche com os de trabalho das mães. Fora isso, Juliana, que é de Suzano, diz que representa a região do Alto Tietê, em São Paulo. Uma das principais necessidades da área, segundo ela, é a melhora da saúde. Além disso, ela prega por uma maior sustentabilidade e maior desenvolvimento da região, com geração de empregos.

Mas a situação da mulher na política parece estar melhorando, ainda que de forma tímida. Desde 2014 concorrendo à cargos eletivos, Isa Penna, 27 anos, que é candidata do PSOL à deputada estadual por São Paulo afirma que consegue observar uma maior mobilização de mulheres para serem candidatas e apoiarem candidaturas femininas.
“As mulheres estão se colocando na política. Quando você conquista uma mulher para fazer campanha, ela vale por 10”, afirma a candidata que comemora o fato de homens também estarem cada vez mais interessados em se mobilizar pró-feminismo.

As principais propostas dela estão diretamente ligadas à melhora de vida das mulheres. Uma delas é o kit antimachismo que ela pretende implantar nas escolas para “ensinar aos meninos, desde cedo, a tratarem as mulheres como iguais”.

Ela também propõe que seja feito um dossiê da mulher em São Paulo. Assim, dados de violência de gênero seriam compilados e cruzados para que políticas públicas de prevenção pudessem ser estudadas. Além disso, ela quer fazer um incentivo para a contratação de mulheres trans e cis em empresas que disputam licitações.

A questão da representatividade fica ainda mais desafiadora quando a candidata é uma mulher negra. Lia Lopes, 30 anos, é candidata do Partido Socialista Brasileiro (PSB) à deputada federal por São Paulo e afirma que, por vezes, é descreditada por ser mulher, negra e jovem.

“Ser mulher na política é desafio diário. Temos que mostrar o que somos capazes. As pessoas ficam tentando minimizar. Mas quando começo a falar e mostro meu conteúdo, elas mudam de opinião. O primeiro olhar da pessoa que eu não conheço é de que eu sou inferior. Mas, com cinco minutos de diálogo, essa barreira se destrói”, diz.

Com histórico de atuação em movimentos sociais, ela afirma achar extremamente importante a questão da representatividade. Além de ter como uma de suas principais bandeiras a luta pelos direitos humanos, Lia afirma que tem a educação como prioridade.

Giorgia Cavicchioli

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