(Exame, 27/10/2014) Embora os brasileiros tenham decidido que Dilma Rousseff continuará a governar o Brasil por mais quatro anos, a presença das mulheres na política ainda é pequena em um país em que elas representam 52% do eleitorado.
No poder desde 1º de janeiro de 2011, Dilma (PT) venceu no domingo o segundo turno das eleições presidenciais com 51,64% dos votos frente a 48,36% de Aécio Neves (PSDB).
Ao todo, 11 candidatos concorreram à presidência da República, entre eles apenas três mulheres.
Junto com a presidente concorreram Marina Silva (PSB), que chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno, mas terminou em terceiro lugar, com 21,2%; e Luciana Genro (PSOL), que obteve 1,55% dos votos.
A esperada decisão entre Dilma e Marina prevista pelas pesquisas não se concretizou e, com isso, o Chile segue como o único país latino-americano em que duas mulheres se enfrentaram em um segundo turno.
Em 2013, a governante Michelle Bachelet foi eleita na disputa com Evelyn Matthei.
No Brasil, apesar de Dilma Rousseff ter sido a primeira presidente na história republicana do país e seguir no poder até 1º de janeiro de 2019, não houve nenhuma revolução em termos de igualdade de sexos na política.
Nas eleições gerais deste ano, apenas 30,9% dos 24.900 candidatos inscritos eram mulheres. A taxa foi alcançada com o auxílio da legislação eleitoral, já que uma lei, em vigor desde 1997 e editada posteriormente, obriga os partidos a preencherem 30% das candidaturas a cargos públicos para cada sexo.
No entanto, por mais que existam as cotas, uma coisa são candidaturas e outra os cargos que realmente chegam a ser ocupados pelas mulheres. A Câmara dos Deputados foi renovada e no dia 5 de outubro e, das 513 cadeiras em disputa, apenas 51 foram ocupadas por mulheres.
No Senado não foi tão diferente, a nova composição contará com 11 mulheres e 70 homens. O mesmo ocorre entre os governadores. Entre os 171 candidatos, apenas 17 mulheres concorreram e só Suely Campos (PP), eleita governadora de Roraima com 54,85% dos votos, não foi derrotada no primeiro turno.
Com os resultados, o novo cenário será pior que o atual, com apenas duas governadoras: Roseana Sarney (PMDB), no Maranhão, quem não pôde se candidatar porque já tinha sido reeleita em 2010, e Rosalba Ciarlini (DEM), no Rio Grande do Norte.
No caso de Rosalba, o próprio partido decidiu que não se candidatasse à reeleição devido aos altos índices de rejeição, após uma gestão de quatro anos aprovada por apenas 7% dos cidadãos.
O panorama regional devolve ao Brasil o cenário de 1998, a última vez em que só uma mulher foi escolhida governadora, o que também ocorreu em 1994. Em 2010, duas mulheres foram escolhidas para a função, três em 2006 e outras duas em 2002.
Esse quadro de minoria feminina na política também se repete no âmbito municipal. Em 2012, 657 prefeitas foram eleitas, apenas 11,8% do total.
Nos altos cargos que são designados pelos líderes acontece o mesmo, inclusive no governo de Dilma, a primeira presidente de um país que até 2011 só tinha sido governado por 39 homens.
Quando assumiu a presidência, Dilma se comprometeu a promover uma maior participação feminina nas grandes decisões, mas chegará ao fim de seu primeiro mandato com somente sete mulheres entre os 39 ministros.
Eduardo Davis
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