(O Estado de S. Paulo) Em entrevista ao Estadão, Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope declara que os brasileiros aprenderam a usar o voto para transformar sua realidade.
Leia alguns trechos da entrevista:
“A eleição teve duas variáveis claras na decisão do voto, uma regional e outra socioeconômica. O que pesa mais, o lugar onde a pessoa mora ou o estrato social em que está inserida?
Márcia Cavallari – É mais uma questão de pobreza e riqueza que de geografia. Se fizermos o mapa do voto no município de São Paulo vamos ver as bordas da periferia votando em Dilma Rousseff e áreas mais ricas votando em José Serra.
Sempre se criticou no Brasil o fato de se votar na pessoa, no líder carismático, no populista. Essa foi uma eleição sem líderes e sem carisma. É um avanço? O eleitor está aprendendo o que é democracia com o exercício do voto. Ele foi votando, errando, acertando, e com isso começou a ver que o voto faz diferença na vida dele. As pessoas veem o voto como ferramenta real para melhorar a vida. Isso faz com que haja cada vez mais pragmatismo na hora de escolher um candidato ou outro. O que estava por trás dessa eleição era a continuidade de um projeto de governo.”
“A internet poderá vir a ser o grande canal para avaliar a opinião do eleitorado?
Márcia Cavallari – No futuro poderemos fazer pesquisas pela internet. Hoje, a única metodologia que assegura a representatividade de todos os eleitores é a da pesquisa face a face. Nessa eleição, os pesquisadores já poderiam ter inserido os dados em smartphones (celulares de última geração), mas tivemos de usar o papel por conta da legislação eleitoral, pois os partidos querem ver os questionários. Neste ano, o PSDB do Paraná e o PSDB nacional pediram à Justiça Eleitoral para ver nossos questionários. Cobrimos os nomes de milhares de entrevistados, para preservar sua identidade. Mas ninguém do partido apareceu.”
“Como se explica a diferença de intenção de voto entre homens e mulheres durante a campanha?
Márcia Cavallari – Temos visto que as mulheres são muito mais críticas, principalmente em eleições municipais. Talvez porque vivenciem mais os serviços dos municípios, por levar o filho na creche, na escola, no posto de saúde. Na eleição presidencial, as discussões são mais distantes dessa mulher que cuida do dia a dia da casa. Também há uma resistência maior ao PT, ainda associado a confrontos, a movimentos sociais. O próprio Lula, nas eleições de 2002 e 2006, já tinha intenção de voto menor entre as mulheres do que entre os homens. E há o fato de que o fenômeno do voto religioso também é mais forte entre as mulheres.
“Dilma foi eleita com uma imagem própria ou ela ainda será construída?
Márcia Cavallari – Ela não tem uma imagem consolidada. O presidente Lula fez com que ela conseguisse se eleger, mas a construção de sua imagem vai começar quando assumir o governo. Só então as pessoas vão conseguir identificar seus atributos e maneiras de trabalhar. Mas, como o próprio exemplo do Lula demonstra, é mais fácil construir uma imagem a partir de uma tela em branco do que mudar uma imagem já estabelecida.
Gênero – “Dilma venceu entre mulheres e homens, mas com margem maior entre eles do que entre elas. No segmento masculino, a petista teve cerca de 8,6 milhões de votos a mais que o adversário, segundo projeção feita a partir de dados do Ibope. Já as eleitoras deram 3,4 milhões de votos de vantagem à primeira mulher eleita para governar o Brasil.”
Religião – “Em um segundo turno marcado por discussões de fundo religioso, eleitores de diferentes orientações mostraram comportamentos distintos nas urnas. Os católicos preferiram Dilma por um placar de 58% a 42%. Já entre os evangélicos a pesquisa apontou um resultado de 52% para a petista e 48% para o tucano – como os números estão no limite da margem de erro, não é possível saber quem ganhou, apenas que o vencedor teve margem bastante apertada.”
Cor – “A segmentação do eleitorado por cor indica um placar muito próximo entre os eleitores que se denominam brancos: 52% para Dilma e 48% para Serra. Entre negros, a petista venceu por 30 pontos de vantagem (65% a 35%), e entre pardos, por 20 (60% a 40%). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.”
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