(O Globo) Discreta, durona e empenhada em preservar a própria intimidade e a de sua família. Essa é a imagem que a presidente Dilma Rousseff cultiva dentro e fora do governo. Mas uma leitura atenta dos 266 discursos, pronunciamentos e manifestações públicas que ela fez em seu primeiro ano e meio de mandato revela um pouco mais dos desejos, das preferências e das expectativas de Dilma. E, uma vez mais, expõe diferenças importantes em relação a seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O GLOBO analisou as falas públicas de Dilma classificadas como discursos na página oficial da Presidência da República na internet, no período que vai da posse, em 1 de janeiro de 2011, até 29 de junho de 2012. Ficou de fora apenas o juramento feito pela presidente perante o Congresso, no dia da posse, por se tratar de mera repetição de texto protocolar.
Em discursos, Dilma só se referiu ao PT três vezes
As diferenças entre Dilma e Lula não são apenas de modo, mas também de conteúdo. Enquanto Lula dificilmente fazia um discurso sem citar o PT, Dilma só abriu a boca três vezes para falar no partido, duas delas ao saudar correligionários.
A primeira menção só ocorreu em junho de 2011, em meio à crise provocada pela saída do então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, suspeito de enriquecimento mediante tráfico de influência. Ao dar posse à nova ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, Dilma conclamou seus colaboradores a arregaçar as mangas e trabalhar. Fez isso usando a expressão “meu partido”.
A sigla PT, por sua vez, só foi pronunciada uma única vez, em outubro do mesmo ano, na sanção da Lei do Pronatec. Foi quando Dilma agradeceu ao deputado federal Antonio Carlos Biffi, um dos relatores do projeto na Câmara, e mencionou que ele pertence ao PT de Mato Grosso. Por extenso, o nome Partido dos Trabalhadores também só foi uma vez enunciado, em solenidade de posse na Agência Nacional do Petróleo (ANP), quando Dilma saudou o presidente nacional do partido, Rui Falcão, presente ao evento, em março de 2012.
Termos que eram frequentes nos discursos de Lula sumiram das falas públicas da presidente. Exemplo disso são os sem-terra: em 18 meses, ela fez somente duas menções ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sendo que uma delas de caráter genérico, quando falou no plural em “movimentos sem-terra”. E outra ao saudar um representante do MST presente à posse do ministro do Trabalho, Brizola Neto, em maio. A sigla MST nunca foi mencionada.
O aborto, tema que provocou polêmica durante a última campanha eleitoral, tampouco foi pronunciado pela presidente, embora a saúde, os direitos das mulheres e as questões de gênero – o fato de Dilma ser a primeira presidente mulher – estejam entre os tópicos mais abordados por ela.
Tirando preposições, pronomes e artigos, a palavra mais citada por Dilma é Brasil, com 2.867 citações. Entre os temas que dominam a agenda de discursos públicos da presidente estão crescimento econômico, enfrentamento da crise financeira internacional e inclusão social, com destaque para erradicação da miséria, melhoria da educação e da saúde.
Acesse em pdf: Dilma, em suas palavras (O Globo – 08/07/2012)