(Terra) A paridade entre homens e mulheres na política ainda continua sendo uma realidade distante na grande maioria dos municípios brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas a cidade baiana de Dias D’Ávila, região metropolitana de Salvador, está à frente do seu tempo. Dos 10 vereadores do município, sete são mulheres – o maior índice do País -, incluindo quem preside a Casa. Além disso, o comando da prefeitura, do Fórum e da Promotoria da cidade são femininos. A prefeita Andréia Xavier Cajado Sampaio (DEM) acredita que isso ocorre porque em Dias D’Ávila “o povo é menos machista”.
“Não acho que seja algo de especial. Aqui, o povo é menos machista do que nas outras cidades. O que vai acontecer na política é o que vem ocorrendo em outro setores: a mulher está ocupando seu lugar, é uma coisa natural. Eu não dou 20 anos para os homens começarem a reivindicar o seu espaço em alguns setores do mercado de trabalho”, afirmou ela. Cumprindo o terceiro mandato, Andréia não concorrerá neste ano para se dedicar à família, abrindo espaço para um candidato homem.
De acordo com a vereadora Araci dos Santos Reis (PSD), presidente do legislativo municipal, as mulheres estão colhendo “frutos da competência”: “O que vimos aqui é uma evolução muito grande, porque a população confiou na gente e percebeu que temos condições de fazer um bom trabalho. Por isso, a cada eleição, a participação feminina cresce mais e o número de mulheres eleitas também. São frutos da competência, da determinação e da coragem.” Conforme o IBGE, a população total em Dias D’Ávila era de 65 mil pessoas em 2010 – 32 mil homens e 33 mil mulheres.
O cenário político local contrasta com o brasileiro. Em 2004, 22% de mulheres se candidataram e 12,6% foram eleitas para as Câmaras de Vereadores, e em 2008 as candidaturas ficaram em 21%, com ligeira queda para 12,5% das vagas de vereadores. Em 2008, o País possuía apenas 9% de mulheres na Câmara dos Deputados, contra 56,3% em Ruanda, 47% na Suécia e 40% na Argentina, por exemplo.
Grandes cidades são dos homens
A vereadora Araci dos Santos Reis salienta que mesmo com as mulheres comandando o município, o preconceito ainda existe. Porém, ela entende que com responsabilidade e dignidade, a tendência é a mudança de mentalidade: “O preconceito existe, claro, mas ele não é só de gênero, é racial e social. Quando entramos na política, é importante ressaltar, temos responsabilidade de mostrar que servimos ao povo e que representamos a todos com dignidade.”
Os dados do IBGE ressaltam que das 20 cidades do Brasil que atingiram a paridade entre homens e mulheres na política, 16 estão situadas no Norte e Nordeste e 4 no Sudeste, sendo que nenhuma faz parte dos grandes centros. No Sul e Centro-Oeste, não existe maioria de mulheres nas Câmaras.
Cotas frouxas
O professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) e coordenador da pós-graduação do IBGE, José Eustáquio Diniz Alves, argumenta, através de estudos, que existe uma relação positiva entre o percentual de mulheres candidatas e eleitas. Ele afirma que a política de cotas no País é “frouxa”, o que possibilita a predominância masculina no poder.
“A baixa inserção das mulheres no Legislativo decorre de uma política de cotas frouxa, que não obriga os partidos a preencherem o percentual de 30% das vagas. Para que haja maior igualdade de gênero, é preciso mudar a política de cotas, possibilitando que o percentual de 30% seja o piso e não o teto da participação feminina, além de garantir outros mecanismos de incentivo à presença feminina nos espaços públicos de poder”, disse.
“Em uma próxima reforma política no País, a questão de gênero deve merecer atenção especial, para que o Brasil, entre as diversas nações do mundo, não continue com os percentuais mais baixos de participação feminina na política”, concluiu o professor.
Acesse em pdf: Da câmara à prefeitura, mulheres tomam conta de cidade da BA (Terra – 22/06/2012)