(Marie Claire) A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, concedeu entrevista à revista mensal Marie Claire em que fala sobre sua trajetória política, sua nomeação para o comando da Casa Civil, a postura das mulheres em espaços de decisão política, entre outros assuntos. Leia abaixo trechos selecionados da entrevista:
O que foi fundamental em sua trajetória para transformá-la em chefe da Casa Civil?
Gleisi Hoffmann – Duas características foram essenciais na minha vida: determinação e disciplina. Meus pais me deram isso. Eles sempre foram rígidos na educação e nos impuseram humildade. Minha mãe criou a mim e a meus três irmãos (Bertoldo, Juliano e Francis) praticamente sozinha. Meu pai era comerciante e viajava muito. Não tínhamos empregada e éramos uma família de classe média baixa. Para que a casa ficasse em ordem, todo mundo ajudava.
“Quais são as virtudes femininas em cargo de comando?
Gleisi – Acho bárbaro quando os homens dizem que nós nos preocupamos muito com os detalhes. Essa é uma avaliação crítica recorrente, inclusive que alguns fazem à própria presidente. Dizem que a gente fica muito preocupada com detalhe e que temos de pensar no macro. Só que o diabo mora nos detalhes. Então se dedicar para que a coisa dê certo desde o início até o final, cuidando, acompanhando, é uma característica das mulheres. Eu não tenho dúvida que isso vai fazer uma diferença importantíssima na vida pública do país.
Como a cúpula feminina do governo pode ajudar a sanar problemas de gênero como a violência doméstica, a desigualdade salarial, a falta de políticas públicas para a saúde da mulher
Gleisi – Com estímulo a políticas públicas e interlocução com a iniciativa privada. As conquistas nesse campo farão parte de um processo que já está acontecendo. Podemos acelerá-lo e é o que pretendemos.
A presidente Dilma disse ironicamente que está cercada de “homens meigos”. Como a senhora lida com esses homens?
Gleisi – Ela fez uma brincadeira por acusarem-na de ser dura e firme. Aliás, esses atributos são considerados normais em um homem. Por que as mulheres têm de ser frágeis e meigas no comando? Liderança exige determinação e firmeza, independentemente do sexo.
Como recebeu o convite para a Casa Civil?
Gleisi – Quando a presidenta me convidou para ser ministra-chefe da Casa Civil, eu gelei. Foi um susto. Tive dúvidas se deveria aceitar. Pensei: “Meu Deus, é muita responsabilidade”. Ela me chamou um dia antes da posse, e eu fiquei muito preocupada. Fiquei quatro anos na política, longe da gestão. Por isso falei para o Paulo (Paulo Bernardo, seu marido e ministro das Comunicações): “Acho que não devo aceitar. Não me sinto em condições”. E ele disse: “Reflita bem”. Naquela noite, eu chorei. Chorei mesmo. Daí eu fui conversar com a presidenta. Sentei na frente dela decidida a falar que eu achava melhor não assumir, porque não me sentia preparada para desafios tão grandes. Mas ela foi falando, falando, falando e no final eu disse: “Tá bem, presidenta” (faz voz de menina e solta uma gargalhada). Pensei: “Se Deus me pôs aqui é porque eu devo poder fazer algo diferente para ajudar o Brasil. Não é fortuito”.
E o Paulo Bernardo, como recebeu essa notícia? Isso não mexe com os brios dele?
Gleisi – Para ele, foi um susto também. Não acredito que o tenha afetado. Mas ele tem reclamado que eu trabalho demais. Saio de casa antes dele e chego depois. Mas ele vai ter de ter paciência e cuidar um pouco mais das crianças. Ele sempre foi a pessoa pública, e agora sou eu que estou mais em evidência. No dia da minha posse, o telefone de casa tocou às 6 horas da manhã. Ele atendeu, ainda sonolento. Era uma jornalista de uma rádio perguntando: “Alô, é o assessor da Gleisi?”. Ele costuma ser mal-humorado de manhã, mas foi espirituoso: “Claro que não. É o marido dela. O assessor de imprensa não dorme aqui em casa!”.
Até mesmo mulheres fortes têm seus momentos de fragilidade. Quais foram os seus? Não pensou em desistir da política quando perdeu as eleições?
Gleisi – Nunca! Perder e sofrer são lados da mesma moeda da vida. O que vale é a dimensão e importância que você dá a eles. Foram duas situações. Na do Senado, houve uma derrota eleitoral, mas uma vitória política. Eu saí muito de baixo, ninguém acreditava que eu iria ganhar. Foi no final da campanha que a gente avaliou que tinha chance, e aí já não tinha tempo. Mas saí fortalecida. A campanha pela prefeitura de Curitiba foi muito difícil, dura, pesada, de desconstrução da imagem. Ia para alguns bairros, e os adversários diziam que eu não era de Curitiba, não era casada, não tinha filhos, afirmavam que eu era uma mentira. Eu chegava em casa me perguntando onde havia me metido. E, no final, a vitória deles foi acachapante. O que me deixou triste, mas não a ponto de jogar a toalha.
A senhora era chamada de “Pit-bull do Senado”, por defender com veemência o governo. Outra alcunha da senhora é a “Barbie da Dilma”. Os apelidos a incomodam?
Gleisi – Nunca mordi ninguém. Defendia o governo porque acredito nele. E se me chamam de Barbie é porque me acham bonitinha e vazia como uma boneca, não ligo. Não me acho bonita e cuido de minha aparência como a maioria das mulheres. Ser como a Barbie, embora longe da realidade, me envaidece.”
Leia a entrevista na íntegra: Gleisi Hoffmann: ‘Naquela noite, eu chorei. Chorei mesmo. Daí eu fui conversar com a presidenta’ (Marie Claire – 29/07/2011)
Leia também: Dilma Rousseff e suas ministras – a mudança começa com elas (Marie Claire – 11/04/2011)