Apesar de representarem 52% do eleitorado brasileiro hoje em dia, as mulheres nem sempre tiveram o direito de escolher seus representantes. Só depois de muita luta elas conseguiram a permissão para votar nos anos 30. Mesmo assim, esse ainda não era o voto realmente democrático.
(Yahoo Notícias, 22/08/2018 – acesse no site de origem)
De acordo com a professora Danusa Marques, do IPOL (Instituto de Ciência Política) da UnB (Universidade de Brasília), “nos anos 30, existe a conquista do sufrágio, ainda que em um momento que não vivíamos uma democracia”. Nesse período, o Brasil vivia a ditadura de Getúlio Vargas.
Segundo o professor Flávio de Leão Bastos Pereira, especialista em direito constitucional do Mackenzie, é preciso entender que a conquista do voto feminino no País vem junto de um contexto global de luta das mulheres pelo direito ao voto.
“O Brasil vai trazer isso como direito após a Constituição de 1934, que é a primeira que traz, além de direitos liberais clássicos, os direitos sociais. Mas demorou um tempo para elas irem às urnas”, afirma o professor que também cita a Era Vargas.
Para a professora Danusa, o maior desafio que as mulheres tiveram e têm até hoje é votar, mas também ser votada. “Na prática, nossa chance de ser eleita é bem baixa”, constata. Além disso, a representatividade efetiva desse voto é questionada pela especialista. Quando o voto da mulher é instituído, ele ainda era muito restrito por ser uma demanda, principalmente, de mulheres brancas, burguesas e ricas.
Esse fato também é citado pelo professor do Mackenzie. “É preciso lembrar que os direitos políticos têm dupla acepção. A mulher pode ser candidata também. Mas, sabemos que, até hoje, o parlamento é majoritariamente composto por homens”, afirma Pereira.
Ainda que elas tivessem aberto as portas para esse espaço, ele ainda era pouco representativo para a maioria das brasileiras. “A primeira mulher eleita é a Carlota Pereira de Queiroz. Ela era conservadora, com um perfil de elite”, afirma Danusa.
Isso, segundo a professora, só muda a partir dos anos 90, quando as mulheres populares começam a ganhar espaço dentro da política. “Essa é uma eleição que se abre para novos autores. É um momento em que a gente consegue vislumbrar mulheres que seguiram carreiras políticas”, afirma.
Em 1990, o Brasil tinha acabado de sair da ditadura militar, que durou mais de 20 anos e mulheres trabalhadoras e de histórico de militância puderam participar mais efetivamente do processo eleitoral.
Mesmo assim, a professora afirma que as mulheres ainda precisam “provar” que estão aptas para concorrer à cargos públicos. “Isso tem a ver com uma estrutura patriarcal, que divide o que é masculino e feminino e os espaços que eles pertencem. É a divisão sexual do trabalho”, explica a professora.
Algumas mulheres sentem isso na pele. Dani Monteiro (PSOL) é candidata à deputada estadual no Rio de Janeiro e sabe o que é ser uma mulher negra dentro da corrida eleitoral. Segundo ela, estar em um espaço de poder é ocupar um espaço que foi historicamente negado a pessoas como ela.
“Eu acho que quando a gente fala de opressões, a gente vem pensando na representatividade de uma população que é vista como minoria, mas não é”, afirma Dani. De acordo com ela, precisamos pensar políticas a partir das lutas sociais. “O movimento de mulheres, negro e de jovens já dizem há muito tempo o que precisa ser avançado”, diz a candidata que acredita ser necessário ocupar esse espaço político cada vez mais. “Por causa de opressões, a democracia não chega pra gente”, afirma.
Depois da eleição de Dilma Rousseff em 2010, primeira presidente da república mulher, as eleitoras conseguiram ver que é possível atingir o cargo mais importante do País. Mas esse fato histórico também trouxe insegurança no que diz respeito a se manter no poder, de acordo com a professora Danusa. Isso por conta do impechment de 2016, que tirou a ex-presidente do poder.
De acordo com o professor Pereira, a misoginia é fácil de se observar em casos em que a mulher é uma figura pública. “Mulheres políticas recebem críticas, em sua maioria, em relação ao gênero”, constata.
Giorgia Cavicchioli