Quem é a mulher que comanda Tóquio, próxima sede da Olimpíada, por Beatriz Montesanti

21 de agosto, 2016

(Nexo, 21/08/2016) Yuriko Koike receberá de Eduardo Paes o bastão dos Jogos. Ela assume o governo da capital do Japão após campanha marcada por comentários machistas e polêmicas relacionadas ao evento de 2020

Foram 2,9 milhões de votos recebidos por Yuriko Koike, em agosto de 2016. O número, nada modesto, a transformou na primeira governadora mulher de uma das maiores metrópoles do mundo, Tóquio.

Antes da vitória, a própria candidatura de Koike já foi um feito à parte. Aos 64 anos, ela se lançou contra a vontade de seu próprio grupo político, o Partido Liberal Democrata (LDP, na sigla em inglês), do primeiro-ministro Shinzo Abe.

Sem amparo, sua campanha foi ainda marcada por uma avalanche de ofensas machistas no que foi considerada uma das eleições mais negativas do país, segundo a BBC.

“Traidora”, “usa muita maquiagem” e “vestida como uma mulher, mas é um homem agressivo” foram alguns dos comentários proferidos pela oposição no período.

Boa parte deles feitos pelo ex-governador da capital, Shintaro Ishihara, contrariado com os bons números de Koike. “Não podemos deixar Tóquio para uma mulher que usa muita maquiagem”, disse ele em uma ocasião.

No Japão, chama-se “governador”, e não prefeito, o líder do governo de uma cidade, pois a divisão administrativa do país é diferente. No caso, Koike lidera o Governo Metropolitano de Tóquio, que abrange as cidades contidas na metrópole que inclui a capital do país.

O desafio dos Jogos após um período conturbado

Terminada a campanha, um dos maiores desafios da nova governadora é assumir a capital japonesa em meio aos escândalos políticos envolvendo o governo e tornados públicos nos últimos meses.

A eleição de agosto aconteceu após o então governador, Yoichi Masuzoe, renunciar devido a acusações de que teria usado dinheiro público para pagar por férias, brinquedos e gibis para seus filhos.

Antes dele, o governador Naoki Inose renunciou devido a um escândalo financeiro revelado logo após a metrópole ser escolhida em 2013 como cidade-sede da Olimpíada de 2020. Desde então, a preparação para os jogos tem sido cercada por polêmicas e atrasos.

Koike também terá o desafio de governar com um assembleia legislativa dominada por uma coalizão majoritariamente masculina e rancorosa, escreveu o jornal britânico “Independent”.

No Rio de Janeiro para a cerimônia de encerramento, ela recebe de Eduardo Paes o bastão da Olimpíada neste domingo (21).

Filha de empresário do petróleo, âncora de TV

A nova governadora de Tóquio deixou o Japão nos anos 1970 para estudar no Egito, influenciada por seu pai, empresário do petróleo. Lá, obteve seu diploma de sociologia na Universidade do Cairo. Ela fala árabe fluentemente.

Âncora de televisão, entrou para a política em 1992, integrando a Câmara dos Representantes do Japão, o correspondente à Câmara dos Deputados brasileira. Em 2003, tornou-se ministra do Meio Ambiente e, em 2007, ministra da Defesa do atual governo de Shinzo Abe.

Em 2008, concorreu à presidência do LDP, seu partido, o que a tornaria primeira-ministra do país devido à constituição favorável na Câmara dos Representantes – foi a primeira mulher na história do partido a tentar o posto. Ficou em terceiro lugar.

Na ocasião, um apresentador de televisão perguntou se ela concorreria com força, em vez de beleza. “Naturalmente. Em primeiro lugar, eu não sou bonita”, retrucou.

Com referências feitas durante a campanha a Hillary Clinton e Margaret Thatcher, Koike acabou sendo comparada pela mídia internacional à republicana Sarah Palin, devido à improbabilidade de sua candidatura.

“Hillary usou a expressão ‘teto de vidro’, mas no Japão não é vidro, é uma placa de ferro.”
Yuriko Koike

Ao se lançar candidata a primeira-ministra, em 2008

Politicamente, ela era vista como a candidata mais à direita entre os três principais concorrentes para a eleição do governo de Tóquio.

Sua principal bandeira é promover políticas voltadas para as mulheres. Quando criticada por Shintaro Ishihara e outros líderes da oposição, Koike riu e respondeu à mídia: “Estou acostumada.”

Mulheres na política

Em um ranking feito pelo Fórum Econômico Mundial sobre o poder de mulheres na política e economia, o Japão se encontra em 101º lugar, de 145 países – bem atrás das demais nações desenvolvidas.

No país, mulheres apenas tiveram concedido o direito de votar após a Segunda Guerra Mundial. Desde então, uma única mulher liderou um grande partido nacional, o Socialista. Elas constituem 9,5% da Câmara dos Representantes e, das 47 prefeituras do Japão, apenas sete contam com mulheres no cargo de governadora.

A chegada de Koike ao governo da capital do país, e uma das maiores cidades do mundo, é crucial, num período em que mulheres se destacam em posições de poder no mundo – Roma elegeu também sua primeira prefeita, Virgínia Raggi, enquanto Hillary Clinton pode se transformar na primeira presidente mulher dos Estados Unidos. O caminho, porém, ainda é longo em termos de igualdade de gênero na política.

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