No debate eleitoral machismo apareceu em expressões e gestos de rudeza
Pela primeira vez, no Brasil, em 2010, uma mulher foi eleita presidente da república. Uma mulher descasada, sem “primeiro cavalheiro”, recebeu a faixa presidencial e introduziu na escrita política a palavra “Presidenta”.
Essa nova nomenclatura recebeu risos dos políticos tradicionais e de grandes setores da mídia que ainda se recusam a usá-la. Mas, para as mulheres, em especial para as meninas e adolescentes, foi exemplar saber que todas nós podemos ter o mais alto cargo da República. No entanto, toda conquista gera reações daqueles que não reconhecem que o lugar da mulher é também na política.
Não acompanhamos o dia a dia da Presidenta para avaliar o quanto o machismo que impregna a política brasileira se manifestou no trato com uma mulher no poder. Seria um testemunho interessante se a Presidenta um dia escrevesse a esse respeito.
Acompanhando o debate eleitoral, podemos ver uma parte desse machismo em expressões e gestos de rudeza. Mesmo considerando que em todo debate os oponentes se exaltam, é necessário preservar um limite na adjetivação utilizada contra uma Presidenta da República, democraticamente eleita. Lamentamos que esse limite tenha sido extrapolado.
Jacqueline Pitanguy, socicóloga, e Leila Linhares Barsted, advogada, são coordenadoras executivas da Organização Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (Cepia)