As mulheres irão definir a eleição? Sim, já que muitas eleitoras definem o voto no último momento. Quais os motivos? Buscam mais informações para um voto consistente e apurado? A jornada dupla de trabalho a que estão submetidas as mulheres faz com se mantenham mais distantes da política?
A Mesa 1 discutiu O Poder de Voto das Mulheres e contou com a participação de:
Expositores/as
Fátima Pacheco Jordão – socióloga, especialista em pesquisa de opinião, assessora de pesquisa da TV Cultura e diretora do Instituto Patrícia Galvão
Gustavo Venturi – cientista político, professor de sociologia da Universidade de Sao Paulo (USP)
Cristiana Lôbo – jornalista, comentarista política da Globo News
Debatedora: Taís Ladeira – jornalista, Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
Coordenação: Nilza Iraci – comunicadora social, Geledés – Instituto da Mulher Negra
Ouça as entrevistas da jornalista Aline Rocha (Rádio Cultura), especialmente produzidas para a Agência Patrícia Galvão, com:
por Terezinha Vicente*
Como as mulheres tendem a se comportar nas eleições?
“A cada ano que passa, o eleitorado, sobretudo o feminino, tem mais dúvida sobre os candidatos, partidos e propostas,” afirma a socióloga Fátima Pacheco Jordão. Passada a fase de escolha dos candidatos e das candidatas pelos partidos e da composição das alianças, só agora eleitores e eleitoras começam a entrar no processo de definição de seu voto, sobretudo a partir das campanhas nos meios de comunicação, que terá este ano um “mix de mídia jamais pensado anteriormente”. A especialista em pesquisa de opinião acredita que a difusão de informações da mídia fará diferença, já que no Brasil não há formação partidária.
Mulheres são mais criteriosas na definição do voto
As mulheres irão definir a eleição? Segundo Fátima Pacheco Jordão, às vésperas das eleições teremos cerca de 15% de eleitores sem escolha de candidato ou candidata. Deste universo, 65% serão mulheres. “Por isso, as eleições tendem sempre a ser decididas pelas mulheres que definem o voto no último momento. Não por falta de conhecimento, mas porque as eleitoras buscam cada vez mais informações consistentes e apuradas.”
O cientista político Gustavo Venturi questiona a leitura de que “as mulheres seriam mais cautelosas e mais críticas ao dar o seu voto”. Venturi coordenou em 2001, e está reeditando este ano, uma extensa pesquisa sobre o perfil da mulher brasileira para a Fundação Perseu Abramo. Apesar de confirmar que a taxa de eleitoras indecisas é maior que a dos homens indecisos, ele acredita que “essa indecisão pode ser lida também como temor das mulheres de mostrar uma posição numa seara na qual não estão acostumadas”.
Dupla jornada contribui para desinformação
Gustavo Venturi aponta o estilo de vida das mulheres, com jornadas duplas de trabalho, como empecilho na participação política. Já os homens, em geral, têm mais informações sobre o assunto do que elas. O cientista político lembra que a pesquisa de 2001 revelou que, em um quarto dos lares brasileiros, não havia a presença masculina, sendo que, em 9% deles, as mulheres eram as únicas provedoras e, em apenas 20%, os homens participavam do trabalho doméstico. Isso é um demonstrativo do peso da dupla jornada para a mulher.
Interesse em propostas que afetem cotidiano
Fátima Pacheco Jordão afirmou que, ao optar por candidatos ou candidatas, as mulheres têm a tendência a avaliar o que eles propõem de mudanças na saúde, na educação, no transporte, nos assuntos que dizem respeito ao cotidiano. Quanto aos próximos meses, a socióloga acredita que “espera-se um embate civilizado e racional entre os candidatos, sem excessos, pegadinhas e dossiês”. “As pessoas estão interessadas, sim, em saber quais medidas os candidatos pretendem tomar referentes às políticas públicas.”
Barreiras à participação política das mulheres
Outro ponto interessante levantado por Fátima Pacheco Jordão é que, em muitos momentos, partidos e políticos são vistos como “entraves” por mulheres que atuam nas associações de bairro, nas escolas. “Em geral, as mulheres fazem política em espaços que não são regidos por partidos”. Venturi concorda e adiciona que “as mulheres são maioria nos trabalhos de base, tanto na política quanto nas empresas”. A presença feminina diminui conforme se analisam os postos mais altos na carreira privada e nas estruturas de poder. Ele cita como exemplo a composição de delegações partidárias, nas quais a maioria das mulheres é solteira, separada ou viúva, enquanto os homens são, em geral, casados. Outro exemplo são as categorias nas quais a presença das trabalhadoras mulheres é majoritária, mas na direção de seus sindicatos dominam ainda os homens. “A vida política institucional tem um modelo masculino muito forte; para mim, é falta de acesso das mulheres e de formação específica para elas.”
Campanha política ainda é reduto masculino
Para a comentarista política Cristiana Lôbo, as mulheres passam maior credibilidade do que os homens. “Por isso os partidos correm cada vez mais atrás de candidatas mulheres.” Ressaltando que “Dilma não é candidata pela questão de gênero, mas sim porque Antonio Palocci e José Dirceu caíram no meio do caminho”, Cristiana chama a atenção para o fato de que a candidata à frente nas pesquisas “tem uma campanha estruturalmente masculina, com todos os assessores mais próximos do sexo masculino e a presença de mulheres somente nos espaços menos próximos a ela”.
Cristiana Lôbo acredita que “muitas eleitoras ainda votam no candidato por achar ele bonito”. Outro problema levantado pela comentarista política é que, apesar de o jornalismo hoje ser uma profissão na qual as mulheres são maioria, o controle das campanhas na mídia continua estritamente masculino. “Tenho a impressão de que há determinados acordos que as mulheres não aceitam.”
Homens e mulheres vêem a política de modo diferente
A jornalista Taís Ladeira fechou o debate levantando algumas questões. “Há discordância entre homens e mulheres no modo de fazer política ou há desconhecimento das regras por parte das mulheres?” Para ela, o fato de as mulheres estarem preocupadas com as políticas públicas do cotidiano mostra que cabe ainda exclusivamente a elas a preocupação com saúde, educação, segurança. “Os homens se ocupam com o que chamamos de ‘real política’ – as composições, os cargos, informações que muitas vezes escapam às mulheres.”
Outro ponto levantado por Taís é a violência contra a mulher. “Não podemos negligenciar os dados sobre esse tipo de violência. É impossível estar em pé de igualdade com o homem se a mulher é ceifada antes de entrar no ringue, se o companheiro elimina sua capacidade de se posicionar.” Taís defende que acabar com a violência física e psicológica contra a mulher deve ser uma questão de política pública, de projeto da Nação.
Taís levantou também o fato de as mulheres estarem menos presentes no espaço virtual do que os homens. Acessar, portanto, as plataformas dos partidos e as discussões dessas eleições é mais difícil para as mulheres, mesmo com o mix de mídias que temos hoje. Sobre “a dificuldade das mulheres em discutir política e o temor de se posicionar”, Taís acredita que “o próprio lugar da mulher na sociedade determina essa distância, além da falta de acesso e de tempo”.
Entretanto, ela concorda que o trabalho militante é feito mais por mulheres que por homens; porém, esse trabalho não aparece nas instâncias dos partidos. “As mulheres são associadas à ética, à seriedade na política, e ficam responsáveis por serem diferentes se eleitas”, diz Taís. Para agravar a situação, há a histórica falta de recursos para as candidatas e a desvalorização delas nos partidos. “Queremos ser uma escolha consciente, partidária, resultado de um projeto; por isso temos de atuar nos partidos. Eleição não é momento mágico, mostra o acúmulo de anos.”
* Terezinha Vicente é jornalista de São Paulo/SP e integrante da Ciranda Internacional de Informação Independente.
Realização: Instituto Patrícia Galvão
Parcerias: Andi, Fundação Carlos Chagas e TV Cultura
Apoio: Secretaria de Políticas para as Mulheres
Local: São Paulo/SP
Acesse a cobertura sobre as outras mesas do evento:
9h Abertura – Eleições 2010: A Presença das Mulheres
Expositores/as
Albertina de Oliveira Costa – socióloga, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e diretora do Instituto Patrícia Galvão
José Eustáquio Diniz Alves – demógrafo, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE)
Maria Betânia Ávila – socióloga, coordenadora do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia
14h Mesa 2 – Mídia e Eleições Estaduais: A cobertura das candidaturas de mulheres
Expositores/as
Leonardo Cavalcanti – editor de política do Correio Braziliense (DF)
Lázaro Moraes – editor de política de O Liberal (Belém/PA)
Rosane de Oliveira – editora de política e colunista do Zero Hora (Porto Alegre/RS)
Debatedor: José Moroni – filósofo, Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)
Coordenação: Isabel Clavelin – jornalista, assessora de comunicação do Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher)
15h debates
15h30 Mesa 3 – Mídia e Eleição Presidencial
Expositores/as
Claudia Belfort – editora-chefe do Jornal da Tarde (SP)
Luiz Rila – jornalista e coordenador da cobertura política de eleições de O Estado de S. Paulo
Eliane Cantanhêde – colunista da Folha de S. Paulo
Debatedora: Céli Regina Jardim Pinto – cientista política, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Coordenação: Maria de Lourdes Rodrigues – socióloga, Instituto Patrícia Galvão
16h30 debates